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Críticas

Djonga

: "Heresia"

Ano: 2017

Selo: Ceia Ent.

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: BK, Síntese

Ouça: Esquimó, Corre nas Notas

8.8
8.8

Resenha: “Heresia”, Djonga

Ano: 2017

Selo: Ceia Ent.

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: BK, Síntese

Ouça: Esquimó, Corre nas Notas

/ Por: Cleber Facchi 26/04/2017

Respire fundo. Tome fôlego. Você vai precisar. Em avalanche de rimas tortas, batidas secas, ataques que não poupam ninguém e reflexões sóbrias sobre o cotidiano de qualquer grande cidade, o mineiro Djonga faz do novo álbum em carreira solo, Heresia (2017, Ceia Ent.), uma obra necessária. Letras que atravessam a periferia, discutem racismo, drogas, sexo e criminalidade sem necessariamente tropeçar no óbvio. Uma extensão madura de tudo aquilo que o rapper vem produzindo desde a estreia com O Bom Maluco ou mesmo em parceria com o coletivo DV Tribo.

Urgente, o trabalho de dez faixas se revela logo nos primeiros minutos. Da hipocrisia e corrupção pessoal escancarada nos versos de Corre nas Notas (“Esses manos são de dar dó / Mais falsos que Fábio Assunção parar de cheirar pó / Mais falsos que broxar pela primeira vez“), passando pela poesia caótica de Entre o Código da Espada e o Perfume da Rosa (“Sigo frio tipo a noite no Saara ó / A vida é um filme de terror / Sem diretor, sem tempo pra ensaiar / Eu tô num filme de terror“), Djonga passeia por diferentes histórias, cenas e personagens sem necessariamente manter o foco em um tema específico.

Um bom exemplo disso está no imenso catálogo de referências que abastecem a cinza Esquimó, terceira faixa do disco. Um olhar atento sobre a periferia (“Compare, o morro tem sua própria polícia / Bom ou menos mal, assim, afinal“), conflitos diários de diferentes personagens (“Bala nos inimigo, bala nos invejoso / Dinheiro pros amigos e muito ouro / Hoje somos riso, amanhã seremos choro“) e citações que vão de Pokémon (“Aqui não é Pokémon, e é Ratata“) a conterrâneos do rap nacional (“Jamais será Castelos & Ruínas / Quem é Rá-Tim-Bum / Quem errar ti bum / Vão tombar sem ser Karol Conká“).

Para a faixa-título do disco, um jogo de palavras e paralelos que transportam o ouvinte para diferentes cenários (“Rainhas vivem o drama / Da Rocinha ao Queens“). Em Fantasma, quarta faixa do disco, a desconstrução de referências religiosas (“Não sei se sou Jesus de bege ou o diabo de terno … É, peguei o errado rezando pro capeta“). Escolhida para o fechamento do disco, O mundo é nosso, parceria com o rapper BK, se aprofunda no debate racial que explode de forma criativa durante toda a construção do disco (“Homem negro, inferno branco, tipo Tarantino … Quilombos, favelas, no futuro seremos reis, Charles“).

Pontuado por instantes de breve respiro, Heresia cria pequenas brechas para que o ouvinte passeie pelo no universo intimista do rapper. “Ela disse que acredita em mim / Que se preciso vai me esperar até o fim / Eu imagino ela dizendo sim / Tipo Cleópatra dizendo sim“, rima em Verdades Inventadas, sexta faixa do álbum. Em Geminiano, uma análise sobre a instável relação de um casal (“Faço minha mala, dessa vez ela me puxa / Desfiz minha mala, dessa vez ela me chupa“), conceito reforçado em pequenas dualidades ao longo da música.

Imenso na composição dos versos, Heresia segue minimalista na construção das batidas e bases em grande parte das faixas. São beats secos, samples contidos e diálogos consideráveis com o Jazz. A busca declarada por um som homogêneo, mesmo na diversidade do time de produtores escalados para o trabalho — CoyoteBeatz, DJ Murillo, DK Cost, Pizzol, SlimBeatz e El Lif Beatz. Acertos, contrastes e pequenas desconstruções que vão da imagem de capa do disco, uma releitura do clássico Clube da Esquina (1972), mas que acaba crescendo em cada fragmento de voz do registro.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.