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Críticas

Herod

: "Herod Plays Kraftwerk"

Ano: 2017

Selo: Sinewave

Gênero: Pós-Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Mogwai e ruído/mm

Ouça: Radioactivity e Kometenmelodie 1

8.0
8.0

Resenha: “Herod Plays Kraftwerk”, Herod

Ano: 2017

Selo: Sinewave

Gênero: Pós-Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Mogwai e ruído/mm

Ouça: Radioactivity e Kometenmelodie 1

/ Por: Cleber Facchi 06/09/2017

Em quase cinco décadas de carreira, não foram poucos os artistas que se beneficiaram do som produzido pelo Kraftwerk. Pioneira da música eletrônica, a banda comandado por Ralf Hütter viu a própria obra sendo replicada em uma variedade de outros registros – sejam eles antigos ou recentes. De veteranos como David Bowie, Joy Division e New Order, ao trabalho de artistas que surgiram na última década, caso de LCD Soundsystem e Franz Ferdinand, sobram reciclagens, interpretações e pequenas adaptações da rica discografia assinada pelo grupo germânico.

Exemplo recente desse profundo resgate criativo está no inusitado Herod Plays Kraftwerk (2017, Sinewave). Vindo em sequência ao ótimo Umbra (2013), último registro de inéditas da banda comandada por Bruno Duarte (bateria), Daniel Ribeiro (guitarra e voz), Elson Barbosa (baixo) e Sacha Ferreira (guitarra e voz), o trabalho de sete faixas passeia por diferentes aspectos do som originalmente produzido pela banda alemã. Uma lenta desconstrução da fina tapeçaria eletrônica que orienta a produção de clássicos como Autobahn (1974), Radio-Activity (1975) e The Man-Machine (1978).

Inicialmente pensado como parte de um apresentação ao vivo, o registro gravado a partir de um projeto de financiamento coletivo cresce significativamente dentro de estúdio. No lugar dos habituais sintetizadores e programações robóticas, blocos imensos de ruídos produzidos a partir da sequência de guitarras que passeiam pela obra. Instantes em que o grupo paulistano rompe com a ambientação eletrônica de músicas como Kometenmelodie 1 e The Hall of Mirrors para provar de um som ruidoso, denso, produzido a partir da lenta sobreposição de camadas instrumentais.

Mais do que uma homenagem ao trabalho do Kraftwerk, o álbum que ainda conta com as guitarras de Lucas Lippaus e a cítara de Luciano Sallun resume com naturalidade parte das influências e temas musicais que há mais de uma década orientam o trabalho do quarteto paulistano. Basta uma rápida passagem pela ficha técnica do disco para que todas as referências da Herod sejam prontamente apresentadas. Nomes como Mogwai, Godspeed You! Black Emperor, Swans e Sun O))) que acabam servindo de ponte para o criativo diálogo da banda com a o grupo alemão.

Um bom exemplo desse cruzamento de referências ecoa com naturalidade na crescente Radioactivity, quarta faixa do disco. Em um intervalo de quase oito minutos de duração, o quarteto paulistano lentamente se distancia do riff matemático da versão original da canção para mergulhar em um turbilhão marcado pelas texturas e camadas sobrepostas, lembrando o Mogwai no clássico Mogawi Young Team (1997). Um cuidado que se reflete em cada uma das composições do disco, vide a lenta (des)construção de Kometenmelodie 1 ou mesmo a nova montagem para a extensa Autobhan.

Intenso e detalhista, como tudo aquilo que o quarteto vem produzindo desde o começo da carreira, Herod Plays Kraftwerk mostra o esforço do grupo paulistano em homenagear uma de suas maiores inspirações, porém, preservando a própria identidade musical. Mais do que um resgate ocasional de velhas referências, a necessidade em testar os próprios limites dentro de estúdio, cuidado que se reflete na avalanche de ruídos, vozes e ambientações claustrofóbicas que crescem com naturalidade no interior do disco.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.