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Críticas

Lucy Dacus

: "Historian"

Ano: 2018

Selo: Matador Records

Gênero: Indie, Folk Rock

Para quem gosta de: Angel Olsen e Torres

Ouça: Addictions e Night Shift

8.0
8.0

Resenha: “Historian”, Lucy Dacus

Ano: 2018

Selo: Matador Records

Gênero: Indie, Folk Rock

Para quem gosta de: Angel Olsen e Torres

Ouça: Addictions e Night Shift

/ Por: Cleber Facchi 09/03/2018

Você já teve a impressão de ser arrastado por uma avalanche de versos intimistas, angústia e dor? Mesmo que a libertação seja o produto final dessa experiência, não há como negar que essa talvez seja a principal sensação gerada pelo trabalho da cantora e compositora norte-americana Lucy Dacus. Composições centradas em desilusões amorosas, relacionamentos fracassados e tormentos típicos de qualquer indivíduo apaixonado. Um canto amargo que se projeta de forma essencialmente íntima de qualquer ouvinte, cuidado que se reflete desde a estreia da artista, com No Burden (2016), e cresce ainda mais em Historian (2018, Matador Records).

Nascido de um recente término de relacionamento da cantora, o trabalho produzido em parceria com o experiente Collin Pastore, colaborador desde o último disco, ganha forma aos poucos, sem pressa. São vozes limpas que se conectam diretamente ao minucioso acabamento acústico do disco. Camadas de doce sofrimento que vão do parcial silenciamento à completa explosão dos arranjos e vozes detalhadas ao final de cada composição.

É justamente esse esforço da cantora em fazer dos instantes finais das músicas um ponto de destaque que garante notoriedade ao trabalho. Perceba como grande parte do material produzido para o disco cresce de forma desmedida, como se mesmo derramada a solução de versos que servem de alicerce para a obra, Dacus e os parceiros de banda fossem além, mergulhando na formação de verdadeiros turbilhões emocionais, base para faixas como Night Shift, Next of Kin e Addictions.

Dentro desse cenário consumido pela dor, pontes instrumentais e melodias que crescem com intensidade, Dacus ocupa as pequenas brechas do registro com as próprias confissões. “Não sinto necessidade de perdoar, mas eu também posso / Mas deixe-me beijar seus lábios, então saberei o que sentiu“, canta logo nos primeiros minutos do disco, como um indicativo da incerteza, melancolia, apego e necessidade de seguir em frente que orienta o ouvinte durante toda a execução do trabalho.

Importante notar que mesmo consumido pela dor e sentimentos mais profundos de Dacus, Historian está longe de parecer uma obra egoica. Exemplo disso está na poderosa Yours & Mine. São pouco mais de cinco minutos em que a cantora norte-americana passeia por entre descritivos ambientes em chamas, gritos de protesto e agitação popular, como um retrato musicado do debate racial gerado em 2015, durante a série de manifestações de grupos negros em Baltimore, nos Estados Unidos.

Incapaz de ser absorvido em uma única audição, Historian parece pesar sobre o ouvinte em diversos momentos. Difícil não se sentir pressionado pela força das palavras e temas lentamente detalhados pela cantora durante toda a execução da obra. Um doloroso conjunto de ideias que se reflete tão logo o disco tem início, em Night Shift, e segue até o último fragmento poético da homônima faixa de encerramento, como se do universo apresentado pela artista em No Burden, Dacus fosse além.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.