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Críticas

ANOHNI

: "Hopelessness"

Ano: 2016

Selo: Secretly Canadian / Rough Trade

Gênero: Eletrônica, Indie, Alternativa

Para quem gosta de: Björk, Cocorosie e Perfume Genius

Ouça: Drone Bomb Me e I Don't Love You Anymore

9.0
9.0

Resenha: “Hopelessness”, ANOHNI

Ano: 2016

Selo: Secretly Canadian / Rough Trade

Gênero: Eletrônica, Indie, Alternativa

Para quem gosta de: Björk, Cocorosie e Perfume Genius

Ouça: Drone Bomb Me e I Don't Love You Anymore

/ Por: Cleber Facchi 09/05/2016

ANOHNI, anteriormente conhecida como Antony Hegarty, sempre manteve um forte interesse pela música eletrônica. Ainda que a cantora e compositora norte-americana tenha passado a última década mergulhada em elementos do folk e chamber pop, sobrevive na sequência de faixas assinadas de forma colaborativa o real fascínio da musicista pelo gênero. Experimentos como o som dançante de Blind, clássico em parceria com o grupo nova-iorquino Hercules and Love Affair, e até canções “menores”, como Tears for Animals, ao lado da dupla Cocorosie, além da série de faixas divididas com a islandesa Björk – vide Dull Flame Of Desire e Atom Dance.

Em Hopelessness (2016, Secretly Canadian / Rough Trade), primeiro trabalho sob o título de ANOHNI, é onde essa relação com os temas eletrônicos se intensifica e cresce. Primeiro registro de inéditas desde o delicado Swanlights, de 2010, o novo álbum altera não apenas a paisagem sonora que cerca a musicista, mas a própria figura da ANOHNI, violenta e fortemente influenciada por temas políticos a cada novo movimento do trabalho. Uma versão angustiada da mesma personagem que subiu ao palco para gravar o disco ao vivo Cut the World, em 2012.

Junto de ANOHNI, dois nomes importantes do atual cenário eletrônico. De um lado, os sintetizadores, ruídos e bases tortas de Daniel Lopatin, produtor conhecido pelo trabalho com o Oneohtrix Point Never e responsável pela porção “experimental” de Hopelessness – vide a construção atmosférica de Watch Me e melodias de Drone Bomb Me. No outro oposto, o peso das batidas assinadas pelo britânico Hudson Mohawke, produtor que já atuou como uma das metades do TNGHT e parece transportar parte dessa sonoridade densa para dentro do registro. As irmãs Bianca e Sierra Casady, do CocoRosie, também fazem uma rápida participação no disco, ocupando as lacunas da “estranha” Violent Men.

Movido pela sutileza dos temas, o presente álbum nasce como uma melancólica obra sobre separação. Ou pelo menos é isso que ANOHNI quer que  você acredite em uma rápida audição do trabalho. Da constante vigilância da NSA em Watch Me – “Eu sei que você me ama / Por que você está sempre me observando / Me proteger do mal / Me protegendo do terrorismo” –, passando pela carta ao presidente Barack Obama – “Toda a esperança drenada de seu rosto / Como crianças, acreditamos”–, Hopelessness se projeta como um grito raivoso da cantora contra o governo dos Estados Unidos.

Jogue bombas em mim Exploda a minha cabeça / Exploda minhas entranhas de cristal”, canta ANOHNI na inaugural Drone Bomb Me, faixa que poderia facilmente ser interpretada como uma amarga faixa de separação, mas dialoga de forma precisa com a série de bombardeios causados por drones controlados pelo exercito norte-americano no Afeganistão. O mesmo conceito romântico/político volta a se repetir em outras peças ao longo do disco, caso da “pop” Execution, quarta faixa do disco, e Crisis, música em que a voz da cantora se transforma em um poderoso instrumento.

Maduro lírica e musicalmente, Hopelessness mostra o trabalho de uma artista que mesmo responsável por uma sequência de grandes obras – como I Am a Bird Now (2005) e The Crying Light (2009) –, continua a evoluir em estúdio. Onde antes habitavam melodias delicadas e temas acústicos, hoje crescem batidas densas e temas eletrônicos, estímulo para a poesia crua de ANOHNI, uma personagem talvez mais relevante do que na década passada, quando conseguiu chamar a atenção da crítica e conquistou o uma pequena parcela do público.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.