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Críticas

Anna Calvi

: "Hunter"

Ano: 2018

Selo: Domino

Gênero: Rock Alternativo, Art Rock

Para quem gosta de: PJ Harvey e Patti Smith

Ouça: Don't Beat the Girl out of My Boy e Indies of Paradise

8.0
8.0

Resenha: “Hunter”, Anna Calvi

Ano: 2018

Selo: Domino

Gênero: Rock Alternativo, Art Rock

Para quem gosta de: PJ Harvey e Patti Smith

Ouça: Don't Beat the Girl out of My Boy e Indies of Paradise

/ Por: Cleber Facchi 13/09/2018

Como um trovão, a voz de Anna Calvi surge invasiva, forte, ocupando toda e qualquer brecha acústica. Junto dela, blocos de guitarras carregadas de efeitos e batidas sempre complementares, como respiros pontuais que antecedem um instante de maior euforia. Nos versos, temas contemplativos, debates sobre gênero e a força do eu lírico feminino, proposta que ganha relevância ainda maior no terceiro e mais recente álbum de estúdio da cantora e compositora inglesa, Hunter (2018, Domino).

Furioso, como tudo aquilo que Calvi vem produzindo desde o primeiro registro de inéditas da carreira, um álbum homônimo lançado em 2011, Hunter segue em uma estrutura crescente e intensa até o último acorde. São camadas instrumentais que confessam algumas das principais referências da artista original de Twickenham, Inglaterra, como Patti Smith, Liz Phair e PJ Harvey, essa última, possivelmente a maior fonte de inspiração da musicista.

Exemplo disso está na explosiva Don’t Beat the Girl out of My Boy, composição escolhida para apresentar o disco e uma clara síntese do som que vem sendo produzido por Calvi. Vozes berradas que esbarram em guitarras ruidosas, lembrando a mesma intensidade de Harvey em obras como Rid of Me (1993) e To Bring You My Love (1995), trabalhos em que a poesia lasciva se amarra aos arranjos, conceito explorado em cada nota ou fragmento poético lançado por Calvi.

A mesma energia (e entrega) se reflete com naturalidade em outros momentos do disco. É o caso de Indies or Paradise, composição em que as guitarras de Calvi crescem desmedidas, caóticas e sempre trabalhadas em proximidade à voz forte da cantora. Entre flertes com o blues, Chain invade o mesmo universo de artistas como Florence + The Machine, efeito da forte similaridade do tom orquestral que corre ao fundo da canção, proposta que se repete em Wish e na própria faixa-título.

Mesmo nos instantes em que desacelera, como em Swimming Pool, Calvi mantém firma a essência detalhista do trabalho, costurando melodias pensadas para hipnotizar o ouvinte. Pinceladas instrumentais e vozes épicas, quase operísticas, como se a cantora se revelasse por completo dentro de estúdio. “Sombras da luz / Sombras se dividem na terra / Desça para a piscina / Abaixo vamos mergulhar / Até que a noite da terra / Desça para a piscina“, canta enquanto arranjos de cordas se espalham sem pressa, lembrando uma Kate Bush urbana, nada mística.

Concebido em parceria com o produtor inglês Nick Launay (Yeah Yeah Yeahs, Nick Cave and The Bad Seeds), Hunter mostra Anna Calvi em sua melhor forma. Da imagem de capa do disco, com a cantora suada e pronta para o ataque, passando pela estrutura catártica que embala os arranjos e vozes sempre grandiosas, poucas vezes antes a artista britânica pareceu tão dominante dentro de estúdio, fazendo do presente álbum uma extensão aprimorada de tudo aquilo que havia sido apresentado no antecessor One Breath (2013).

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.