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Críticas

Tune-Yards

: "I Can Feel You Creep Into My Private Life"

Ano: 2018

Selo: 4AD

Gênero: Indie Rock, Indie Pop

Para quem gosta de: Dirty Projectors e Panda Bear

Ouça: Colonizer, Heart Attack e ABC 123

7.6
7.6

Resenha: “I Can Feel You Creep Into My Private Life”, Tune-Yards

Ano: 2018

Selo: 4AD

Gênero: Indie Rock, Indie Pop

Para quem gosta de: Dirty Projectors e Panda Bear

Ouça: Colonizer, Heart Attack e ABC 123

/ Por: Cleber Facchi 23/01/2018

O fascínio de Merrill Garbus pela música pop nunca foi uma surpresa para quem há tempos acompanha o trabalho do Tune-Yards. Basta uma rápida passagem pelo primeiro álbum de estúdio da musicista norte-americana, Bird-Brains (2009), para perceber como melodias radiantes tentam sobreviver em meio a camadas de sutil experimentação e delírios lo-fi. Um som naturalmente colorido, radiofônico, feito para grudar na cabeça do ouvinte, proposta replicada de forma precisa e sempre inventiva dentro de cada uma das canções de I Can Feel You Creep Into My Private Life (2018, 4AD).

Quarto e mais recente álbum de inéditas do Tune-Yards — projeto agora completo pela presença do músico Nate Brenner como integrante oficial da banda —, ICFYCIMPL utiliza do cruzamento de ritmos e referências instrumentais distintas como o principal componente da obra. Sem necessariamente fixar residência em um gênero específico, Garbus e o parceiro se aventuram na construção de um som marcado pela propositada mudança de direção, fazendo de cada faixa ao longo do disco um objeto essencialmente curioso.

Michael Jackson encontra Talking Heads, Peter Gabriel dança em um território típico do Dirty Projectors, Fela Kuti e Laurie Anderson compartilham instantes de pura estranheza. Em uma estrutura crescente, Garbus reserva para os instantes iniciais o lado mais pop e acessível do trabalho. Difícil não ser arrastado pelas guitarras, batidas e sintetizadores pontuais que capturam a atenção do ouvinte logo na inaugural Heart Attack, música que remonta a obra de veteranos como The Jacksons 5. Uma plataforma conceitual para toda a explosão de cores que ganha ainda mais destaque em músicas como ABC 123 e, principalmente, no turbilhão poético/instrumental de Look At Your Hands.

Meio termo entre o indie-pop-tropical de W h o k i l l (2011), obra-prima do Tune-Yards, e as experimentações eletrônicas que abastecem o ótimo Nikki Nack (2014), ICFYCIMPL parece aproximar os extremos desses dois universos ao mesmo tempo em que deixa florescer a própria identidade. Exemplo disso está na décima faixa do disco, Who Are You. Enquanto preserva a atmosfera radiante do restante da obra, interessante perceber nos instantes finais da música um breve diálogo com o jazz, efeito da base torta que preenche as pequenas lacunas da canção, transportando o ouvinte para um território de profunda renovação.

Longe de qualquer certeza, Garbus e Brenner avançam pelo disco de forma a provocar o ouvinte. Do R&B desconstruído em Now As Then ao lento desvendar de Hammer, composição que vai da música congolesa ao synthpop, difícil esbarrar em qualquer traço de previsibilidade. Nada que se compare ao cuidado da dupla em Colonizer. Trata-se de um necessário, ainda que bem-humorado, debate sobre apropriação cultural e o privilégio branco. “Eu uso minha voz de mulher branca para contar histórias de viagens com homens africanos … Colonizadora”, canta Garbus. “Muitas pessoas pensam que estou me divertindo com outra mulher branca em ‘Colonizer’. Não. Esta sou eu“, esclareceu em entrevista à NPR.

Dividido entre o tímido desejo de mudança e a necessidade em provar de novas sonoridades, I Can Feel You Creep Into My Private Life mostra o cuidado de Garbus na composição de cada uma das 12 faixas que recheiam o disco. Perceba como a cantora e o parceiro de banda parecem resgatar parte dos conceitos originalmente testados em W h o k i l l, porém, sempre convidando o ouvinte a mergulhar em um território parcialmente novo, como se cada faixa detalhada no decorrer da obra fosse o princípio de um curioso campo criativo a ser desvendado pelo ouvinte.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.