Resenha: “I Had a Dream That You Were Mine”, Hamilton Leithauser + Rostam

/ Por: Cleber Facchi 28/09/2016

Artista: Hamilton Leithauser + Rostam
Gênero: Indie Pop, Alternative, Pop
Acesse: http://www.hamiltonrostam.com/

 

Depois de uma década como vocalista do grupo nova-iorquino The Walkmen, em 2014, Hamilton Leithauser apresentou ao público o primeiro trabalho em carreira solo: Black Hours. Gravado em Los Angeles, Califórnia, o registro que contou com a presença de nomes como Amber Coffman (Dirty Projectors), Richard Swift (The Shins) e Morgan Henderson (Fleet Foxes) trouxe na produção assumida por Rostam Batmanglij (ex-Vampire Weekend) o início de uma bem-sucedida parceria.

Dois anos após o lançamento do álbum — obra que apresentou ao público músicas como as pegajosas Alexandra e 11 O’Clock Friday Night —, Leithauser e Batmanglij mais uma vez se encontram em estúdio para a produção do primeiro trabalho colaborativo: I Had a Dream That You Were Mine (2016, Glassnote). Uma delicada seleção de temas românticos em que a dupla vai de encontro ao passado, resgatando melodias, fórmulas e conceitos típicos do pop produzido entre as décadas de 1950 e 1960.

Nostálgico e atual em uma medida exata, o trabalho de apenas dez faixas inicialmente resgata os mesmos arranjos e experimentos delicadamente tecidos por Brian Wilson no clássico Pet Sounds (1967), referência explícita na forma como batidas, vozes e órgãos crescem em A 1000 Times. Canção escolhida para a abertura do disco, a música tomada pelo uso de versos essencialmente românticos – “Eu tive um sonho que você era minha / Eu tive esse sonho mil vezes” – parece apontar a direção seguida pela dupla no restante da obra.

Como uma verdadeira coletânea de músicas empoeiradas e clássicos resgatados de obras esquecidas do pop-rock, I Had a Dream That You Were Mine faz de cada composição uma verdadeira homenagem ao passado. Difícil não lembrar dos trabalhos de Simon & Garfunkel nas melodias acústicas de In a Black Out, uma das músicas mais sensíveis do disco, ou mesmo Bob Dylan na semi-descritiva The Bride’s Dad, composição que parece saída dos primeiros discos do veteranos do folk norte-americano.

Em Rough Going (I Don’t Let Up), terceira faixa do disco, uma verdadeiro diálogo com a obra de artistas como Roy Orbinson, referência escancarada no coro de vozes e versos pegajosos que se espalham ao longo da canção, por vezes íntima dos mesmos arranjos que marcam o último álbum do Vampire Weekend, Modern Vampires of The City (2013). Sobram ainda referências aos primeiros discos de Scott Walker (You Ain’t That Young Kid), The Beatles (Sick as a Dog) e até ao próprio The Walkmen, vide a força das guitarras ritmadas e batidas que movem The Morning Stars. Sobra até para uma rápida participação da cantora Angel Deradoorian, ex-integrante do Dirty Projectors, na derradeira 1959.

Primeiro registro autoral de Batmanglij pós-Vampire Weekend – o músico anunciou no Twitter a saída da banda em janeiro deste ano –, I Had a Dream That You Were Mine mostra o esforço do artista como produtor e principal instrumentista da obra, criando um ambiente perfeito para a voz sempre versátil de Leithauser. Uma versão aprimorada e acessível do mesmo material produzido anteriormente pelo músico em composições como EOS e Gravity Don’t Pull Me.

 

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I Had a Dream That You Were Mine (2016, Glassnote)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: The Walkmen, She & Him e Vampire Weekend
Ouça: A 1000 Times, In a Black Out e Rough Going (I Don’t Let Up)

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.