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Críticas

The XX

: "I See You"

Ano: 2017

Selo: Young Turks

Gênero: Indie, R&B

Para quem gosta de: Jamie XX, James Blake

Ouça: On Hold, Replica

8.5
8.5

Resenha: “I See You”, The XX

Ano: 2017

Selo: Young Turks

Gênero: Indie, R&B

Para quem gosta de: Jamie XX, James Blake

Ouça: On Hold, Replica

/ Por: Cleber Facchi 16/01/2017

Dizem que estamos em perigo / Mas eu discordo … Você teve fé em mim / Eu não vou fugir / Se tudo desmoronar / Você terá sido o meu erro favorito”. Ainda que a incerteza de um novo amor sirva de base para a inaugural Dangerous, difícil ouvir o dueto entre Romy Madley Croft e Oliver Sim e não perceber na canção um paralelo com a presente fase do The XX. Longe da zona de conforto que marca os dois primeiros discos da banda – xx (2009) e Coexist (2012) –, I See You (2017, Young Turks) encanta pela busca declarada do trio, completo com o produtor Jamie XX, em provar de novas sonoridades.

Embora íntimo do mesmo universo de referências que marcam a curta discografia da banda, como o R&B dos anos 1990 e o soul produzido na década de 1970, I See You detalha o esforço do trio em sutilmente distorcer o conceito minimalista apresentado no primeiro disco de inéditas. Em um diálogo explícito com a música pop, músicas como Lips (“Apenas o seu amor / Apenas os seus lábios”) e Say Something Loving (“Eu preciso lembrar / O sentimento escapa de mim”) se projetam como hits em potencial, aproximando o trio de um som comercial, essencialmente radiofônico.

Longe do isolamento claustrofóbico que move faixas como Crystalised, Angels e Islands, parte expressiva das canções no presente álbum encantam pela grandeza. Difícil não ser arrastado pelas guitarras e batidas eletrônicas de On Hold, composição que utiliza de samples da música I Can’t Go for That (No Can Do), faixa originalmente gravada em 1981 pela dupla Hall & Oates. O mesmo detalhamento se reflete com naturalidade logo na música de abertura do disco, efeito do som empoeirado dos metais que cobrem Dangerous durante toda sua execução.

Mesmo produzido em parceria com Rodaidh McDonald, produtor escocês que já trabalhou ao lado de artistas como Adele, King Krule e How To Dress Well, difícil não pensar I See You como uma extensão do projeto solo de Jamie XX. Do uso inusitado de samples, como Do You Feel It?, da dupla Alessi Brothers, passando pela interferência de elementos eletrônicos em On Hold e Replica – uma das melhores canções do disco –, faixa após faixa, Jamie faz do presente disco uma adaptação contida do material apresentado em In Colour (2015), estreia solo do produtor. Músicas que partem da mesma ambientação testada pelo artista em Loud Places, faixa assinada em parceria com Croft.

Interessante perceber que mesmo dentro desse conceito grandioso, I See You detalha pequenas brechas para a construção de faixas contidas, econômicas, por vezes íntimas do som produzido pela banda dentro do primeiro álbum de estúdio. Um bom exemplo disso está em Performance, quinta faixa do disco. Enquanto a letra se espalha de forma sorumbática – “Quando você me viu saindo / Você pensou que eu tinha um lugar para onde ir?” –, o mesmo aspecto doloroso se reflete na lenta sobreposição dos arranjos, fazendo da música um ato de pura melancolia e confissão.

Claramente pensado para as apresentações ao vivo do trio – proposta explícita nos pequenos intervalos que antecedem os refrãos e versos que clamam pelo coro em grande parte das músicas –, I See You surge como uma obra decidida, madura. Livre da parcial ausência de direção que marca o antecessor Coexist, cada faixa do presente trabalho detalha o esforço da banda em manter a atenção do público em alta, evitando a produção de canções descartáveis ou possíveis excessos. Da abertura do disco, em Dangerous, passando por músicas como Lips, Replica e On Hold, um trabalho que encanta pela coerência, dor e completa honestidade dos versos.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.