Resenha: “Impermanence”, Peter Silberman

/ Por: Cleber Facchi 07/03/2017

Artista: Peter Silberman
Gênero: Indie, Slowcore, Alternativo
Acesse: https://www.facebook.com/psilb/

 

Entre confissões românticas, medos e desilusões, Peter Silberman passou grande parte da última década transformando os próprios tormentos na matéria-prima para cada nova composição. Mais conhecido pelo trabalho como vocalista e líder do grupo nova-iorquino The Antlers, Silberman chega ao primeiro álbum em carreira solo brincando com a mesma composição amarga dos arranjos e versos, base de cada uma das seis faixas de Impermanence (2017, ANTI-).

Primeiro registro de inéditas do músico desde o denso Familiars (2014), último álbum do The Antlers, o trabalho de quase 40 minutos de duração parece dançar em meio a temas e reflexões particulares do próprio artista. Canções que passeiam pelo centro da cidade de Nova York e chegam até a mente conturbada do artista, física e emocionalmente debilitado durante o processo de composição do álbum, ponto de partida para a melancólica atmosfera do disco.

Estou desmontando, peça por peça / Deteriorando, decadente, diminuído / Se você está aqui, me recupere / Me pegue”, canta na inaugural Karuna, música inspirada na súbita perda de audição que Silberman enfrentou durante um show do The Antlers. Semanas em que o músico teve de lidar com um chiado perturbador, o mesmo ruído cinza que se espalha durante toda a construção da faixa, ocupando as pequenas brechas deixadas pela guitarra cuidadosamente explorada pelo artista.

Em Gone Beyond, a mesma angústia, porém, maquiada pela forma como os sentimentos abraçam o ouvinte. “Estou ouvindo o seu silêncio, mas Deus, há tanto barulho / E agora sinto que te encontrei / Você está parcialmente destruída”, canta enquanto a percussão minimalista, quase inexistente, dialoga com o triste movimento das guitarras. Pouco mais de oito minutos em que Silberman invade o mesmo território de artistas como Grizzly Bear, explorando melodias e versos e forma sempre dolorosa.

Naturalmente próximo dos primeiros discos do The Antlers, como Uprooted (2006) e In the Attic of the Universe (2007), Impermanence é um trabalho que destaca a voz de Silberman. Seja na construção de faixas extensas como Karuna e Gone Beyond, ou na leveza de New York, Maya e Ahimsa, poucas vezes antes o canto angustiado do músico norte-americano pareceu se destacar de forma tão explícita. Instantes em que mente atormentada do artista se converte em música.

Fuga temporária do som produzido em parceria com os demais integrantes do The Antlers, Impermanence mostra Peter Silberman em sua forma mais honesta, sensível. A cada nova canção, um precioso lamento musicado. Versos tristes, memórias e sentimentos que refletem a presente fase do músico nova-iorquino, mas que acabam dialogando de forma inevitável com os principais tormentos de qualquer indivíduo sofredor.

 

Impermanence (2017, ANTI-)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: The Antlers, Grizzly Bear e Sufjan Stevens
Ouça: Karuna, New York e Ahimsa

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.