Resenha: “In Mind”, Real Estate

/ Por: Cleber Facchi 23/03/2017

Artista: Real Estate
Gênero: Indie Rock, Jangle Pop, Alternativa
Acesse: http://realestatetheband.com/

 

Da psicodelia litorânea que escapa de Beach Comber e Fake Blues, passando pelo som ensolarado de Days (2011), até alcançar o jangle pop de Atlas (2014), não é difícil perceber a linha conceitual que conecta os três primeiros discos do Real Estate. Uma atmosfera radiante, essencialmente pop e repleta de composições marcadas pela honestidade dos sentimentos e confissões expostas em cada fragmento de voz. Delírios românticos, tormentos e letras sensíveis que refletem o mesmo polimento nas canções de In Mind (2017, Domino).

Primeiro registro de inéditas da banda com Julian Lynch como guitarrista – Matt Mondanile decidiu sair da banda para se dedicar exclusivamente ao Ducktails –, o trabalho de 11 faixas mostra o grupo de Nova Jersey confortável em um ambiente dominado pelo uso de temas semi-psicodélicos. Composições que dialogam com o mesmo som melódico produzido por veteranos como The Byrds e Teenage Fanclub, base de grande parte das canções do presente disco.

Doce e intimista, como tudo aquilo que a banda vem produzindo desde o último álbum de estúdio, In Mind reserva ao público uma coleção de faixas pegajosas, feitas para grudar logo em uma primeira audição. São músicas como a inaugural Darling, com suas guitarras e sintetizadores enevoados; o pop psicodélico que cresce em Stained Glass ou mesmo as boas melodias de White Light, composição que parece resgatar a mesma leveza do R.E.M. no começo dos anos 1980.

A diferença em relação aos últimos discos da banda está no aspecto “caseiro” do trabalho. Produzido em parceria com Cole M.G.N., músico que já trabalhou ao lado de artistas como Ariel Pink’s Haunted Graffiti, Julia Holter e Nite Jewel, In Mind nasce como um regresso sutil ao mesmo som empoeirado que apresentou o Real Estate no fim da última década. Um bom exemplo disso está na construção da lisérgica Two Arrows, faixa que bebe da mesma psicodelia litorânea testada pelo grupo no primeiro álbum de estúdio.

Em Time, oitava faixa do disco, o uso atento de melodias acústicas, por vezes íntimas da bossa nova. O mesmo cuidado se repete ainda em Same Sun, composição que se espalha em meio a arranjos preguiçosos, matutinos. Para a derradeira Saturday, o uso não convencional de pianos e arranjos quase minimalistas, como um preparativo para a lenta inserção de arranjos ensolarados, uma ponte delicada para o mesmo som produzido pela banda há seis anos, em Days.

Entre versos que refletem a mesma jovialidade poética dos primeiros discos da banda – “Os pássaros cantando / O nascer do Sol / Impacientemente / Enquanto eu espero por você” –, In Mind encanta pela leveza e lenta construção de cada faixa. Em um intervalo de pouco mais de 40 minutos, tempo de duração da obra, toda a atmosfera criada pelo Real Estate nos últimos anos de repente de forma atenta, renovada e atual, como uma extensão segura do mesmo som produzido pelo grupo desde o primeiro álbum de estúdio.

 

In Mind (2017, Domino)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Ducktails, Deerhunter e Beach Fossils
Ouça: Darling, Stained Glass e Two Arrows

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.