Resenha: “Indigo”, River Tiber

/ Por: Cleber Facchi 07/07/2016

Artista: River Tiber
Gênero: Electronic, R&B, Alternative
Acesse: http://rivertiber.com/

 

Vozes abafadas, versos marcados pelo sofrimento e batidas lentas, por vezes arrastadas, sufocantes. Seja em carreira solo ou trabalhando em parceria com diferentes nomes da cena alternativa – como Kaytranada e BADBADNOTGOOD –, Tommy Paxton-Beesley passou os últimos cinco anos dando voltas em torno do mesmo cercado autoral. Com a chegada de Indigo (2016, Independente), primeiro grande álbum como River Tiber, uma delicada extensão de parte expressiva das canções, temas e sentimentos previamente incorporados pelo artista.

Escolhida para inaugurar o disco, Genesis indica a atmosfera densa que se espalha durante toda a formação da obra. Uma base lenta, melancólica, cortinas que se abrem para a delicada inclusão de vozes quase instrumentais. Trata-se de uma ponte para a dolorosa sequência de vozes ecoadas, batidas e sintetizadores de No Talk e Acid Test, faixas que dialogam de maneira sutil com o mesmo material produzido por artistas como James Blake e Bon Iver.

Em Midnight, quarta faixa do disco, a exposição do lado mais experimental de Indigo. Sem pressa, Paxton-Beesley brinca com as texturas eletrônicas, colidindo vozes e fragmentos minimalistas de forma sempre acolhedora. Difícil não pensar em Radiohead (pós-Kid A) e outros produtores britânicos, principalmente Four Tet, percepção que se reforça com a chegada de Motives, sexta canção do álbum e outro ambiente aberto às colagens eletrônicas do artista canadense.

Antes, porém, a primeira colaboração do disco: West. Já conhecida do público fiel do produtor, a composição apresentada há poucos meses nasce do encontro sorumbático entre Paxton-Beesley e o cantor Daniel Caesar. Pouco mais de dois minutos, tempo suficiente para que a voz do convidado flutue em meia pianos sensíveis e bases etéreas. Um completo oposto do material que chega logo em sequência com Clarity, enérgica parceria entre River Tiber e a cantora Tess Parks.

Ponto de partida para o eixo final do trabalho, Barcelona acaba dividindo o álbum em duas partes. Enquanto a primeira metade do disco sufoca em meio a arranjos e bases claustrofóbicas, com a sétima faixa do disco, o produtor se concentra na produção de melodias detalhistas, vozes limpas e “comercialmente” acessíveis. Estímulo para outras como I’m a Stone e a derradeira Flood, músicas que mais uma vez estreita a relação do artista com a obra do Radiohead.

Mesmo que boa parte das canções sejam conhecidas do público – caso de No Talk, composição originalmente apresentada no EP When The Time Is Right, de 2015 –, Indigo está longe de longe de parecer um registro desgastado. Em um intervalo de 40 minutos, tempo de duração da obra, Paxton-Beesley estabelece um conjunto de regras próprias, fazendo do presente disco uma delicada forma de se apresentar ao grande público.

 

Indigo (2016, Independente)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: James Blake, Låpsley e SOHN
Ouça: No Talk, Barcelona e West

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.