Resenha: “Innocence Reaches”, Of Montreal

/ Por: Cleber Facchi 19/08/2016

Artista: Of Montreal
Gênero: Indie, Eletrônica, Pop Psicodélico
Acesse: http://www.ofmontreal.net/

 

Em mais de duas décadas à frente do Of Montreal, Kevin Barnes não passou mais do que dois anos sem apresentar ao público um novo registro de inéditas. O resultado dessa produção constante está na composição de uma discografia marcada pela irregularidade. Obras que transbordam a criatividade do músico – vide o clássico Hissing Fauna, Are You the Destroyer? (2007) – e trabalhos que sufocam pela redundância – caso do recente Aureate Gloom (2015).

Novo álbum de inéditas do coletivo de Atlanta, Innocence Reaches (Polyvinyl), claramente se aproxima desse primeiro agrupamento de obras capazes de confirmar a força criativa de Barnes. Ancorado de forma explícita no mesmo pop psicodélico que a banda vem promovendo desde o final dos anos 1990, o trabalho de 12 faixas encanta não apenas pela essência nostálgica dos arranjos, mas pelos instantes em que a banda flerta com a música eletrônica.

Composição escolhida para inaugurar o disco, Let’s Relate sintetiza parte dos “experimentos” assumidos pelo grupo. Enquanto a voz robótica de Barnes debate sobre a liberdade da comunidade LGBTT, sintetizadores e batidas dançantes aproximam a canção de um terreno essencialmente dançante, conceito também explorado em A Sport and Pastime, sexta música do disco. Difícil não lembrar de MGMT, Foster The People e outros nomes de peso da cena alternativa. Poucas vezes o Of Montreal pareceu tão pop, pegajoso.

O mesmo som grudento acaba se refletindo em It’s Different for Girls. Uma das melhores composições do músico norte-americano em tempos, a faixa que discute libertação sexual, machismo e a opressão sofrida diariamente pelas mulheres, transporte a temática do empoderamento para um ambiente que mesmo provocativo, mantém firme a mesma estrutura dançante e acessível que abre o trabalho. Impossível não ser arrastado pelas guitarras suingadas que costuram a canção do início ao fim.

Mesmo a busca por um som parcialmente renovado não impede que a banda mergulhe em ambientações típicas dos principais trabalhos da própria discografia. É o caso da psicodélica Def Pacts, música que parece ter saído de algum disco do Pink Floyd no começo da década de 1970. Em My Fair Lady, quarta faixa do disco, um curioso encontro entre a presente fase da banda e toda a sequência de obras produzidas pelo coletivo nos últimos 20 anos.

Longe de parecer uma obra perfeita, Innocence Reaches acaba tropeçando nos mesmos defeitos dos últimos álbuns produzidos pelo Of Montreal. Dividido em duas porções, o registro sustenta na primeira sequência de músicas o completo dinamismo de Barnes, entretanto, acaba mergulhando em uma série de músicas arrastadas nos momentos finais – vide Nursing Slops. Instantes de parcial redundância, como se a euforia que abre o disco aos poucos perdesse o controle.  

 

rp_Of-Montreal-Innocence-Reaches-compressed.jpg

Innocence Reaches (Polyvinyl)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Islands, The Flaming Lips e MGMT
Ouça: It’s Different for Girls, Let’s Relate e My Fair Lady

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.