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Críticas

Sevdaliza

: "ISON"

Ano: 2017

Selo: Twisted Elegance

Gênero: Trip-Hop, R&B

Para quem gosta de: FKA Twigs, James Blake

Ouça: Hero, Human

8.0
8.0

Resenha: “ISON”, Sevdaliza

Ano: 2017

Selo: Twisted Elegance

Gênero: Trip-Hop, R&B

Para quem gosta de: FKA Twigs, James Blake

Ouça: Hero, Human

/ Por: Cleber Facchi 28/04/2017

Nascida no Irã, porém, criada nos Países Baixos, a cantora e produtora Sevda Alizadeh passou os últimos três anos brincando com as possibilidades. Da herança cultural herdada do Oriente Médio ao mundo de novas descobertas em território europeu, grande parte das canções assinadas pela artista fizeram da colisão de ideias uma criativa fonte de atuação. Um livro aberto à colagem de novas referências, estímulo para a construção do primeiro álbum de estúdio como Sevdaliza, o provocativo ISON (2017, Twisted Elegance).

Resultado direto da série de experimentos audiovisuais que a cantora vem produzindo desde o último ano, o registro de 16 faixas pinta um poderoso retrato da presente fase de Sevdaliza. São músicas já conhecidas como a confessional Marilyn Monroe e Human, composições encorpadas pela estética perturbadora nos vídeos dos diretores Hirad Sab e Emmanuel Adjei, mas que se completam com a solução de batidas e versos intimistas que conduzem o restante da obra. Uma profunda reflexão sobre os principais tormentos de Sevdaliza.

Há uma mulher / Ela falha com ele toda vez / Ela não pode descer / Ela vive para ser recusada / Há uma mulher / Ela é toda fantasia / E nenhuma realidade“, canta de forma provocativa em Amandine Insensible, uma personificação do alter ego melancólico da própria artista. Versos sempre tocantes, particulares, percepção reforçada durante a construção da crescente e dolorosa Hero, sexta faixa do disco — “A depressão é um vírus / Isso pode nos prejudicar / Heróis nunca choram / Dores de cabeça, misture tudo / Trabalhe duro, gaste tudo“.

Livre de excessos, Sevdaliza se concentra na produção de versos curtos, porém, essenciais para a condução do trabalho. Fragmentos poéticos que dialogam de maneira explícita com a seleção de batidas e toda a atmosfera do disco. Um bom exemplo disso está em Hubris, música que utiliza do vocal cíclico, quase instrumental, como um complemento à base da canção. Em Hero, a repetição e lenta aceleração do verso “Never make you love” se converte no principal componente da faixa, arrastando o ouvinte para dentro de um turbilhão de emoções.

Conceitualmente próxima de FKA Twigs, James Blake e outros representantes do R&B/Pós-Dubstep inglês, Sevdaliza passeia por entre décadas em busca de um som propositadamente referencial, capaz de dialogar com o trabalho de diferentes artistas. Difícil passar por Hubris e Amandine Insensible e não lembrar de Portishead. Em Human, a busca por melodias e temas experimentais. Na densa Do You Feel Real, batidas e samples que se espalham de forma hipnótica, mergulhando na obra de DJ Shadow e demais nomes do Trip-Hop nos anos 1990.

Produzido em parceria com Mucky, colaborador desde o primeiro registro de inéditas, o EP The Suspended Kid (2015), ISON apresenta Sevdaliza ao grande público em sua melhor forma. Da imagem de capa do disco, uma colaboração entre a escultora surrealista Sarah Sitkin e o designer Hirad Sab, passando pelos versos sempre confessionais de Hero, Human e Marilyn Monroe, cada fragmento do trabalho parece pensado para seduzir e emocionar o ouvinte.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.