Resenha: “IV”, BADBADNOTGOOD

/ Por: Cleber Facchi 12/07/2016

Artista: BADBADNOTGOOD
Gênero: Jazz, Experimental, Alternative
Acesse: http://badbadnotgood.com/

 

O leve amadorismo e completo descompromisso que marca as canções de BBNG (2011), álbum de estreia do coletivo canadense BADBADNOTGOOD, está longe de ser encontrado no quarto e mais recente trabalho do grupo, IV (2016, Innovative Leisure). Produto do natural amadurecimento da banda de Toronto – hoje composta por Matthew A. Tavares, Chester Hansen, Alexander Sowinski e Leland Whitty –, a obra de temas intimistas e arranjos marcados pela execução detalhista dos instrumentos concentra no renovado time de colaboradores o grande acerto de cada composição.

Trabalho em que o grupo mais se distancia da habitual relação com o Hip-Hop – vide o antecessor Sour Soul (2015), obra lançada em parceria com o rapper Ghostface Killah –, o novo álbum confirma a busca do quarteto por um som que dialoga com o passado. Temas e referências instrumentais que vão dos experimentos com o Funk/Soul na década de 1970 – base da parceria com Kaytranada, em Lavender –, até composições que resgatam o clima do jazz clássicos dos 1950, abrindo espaço para uma série de interferências vocais.

Em Time Moves Slow, terceira faixa do disco, uma perfeita representação de como a voz ganha destaque no interior da obra. Enquanto Samuel T. Herring, vocalista do Future Islands, detalha uma sequência de versos marcados pela saudade – “O tempo passa lentamente quando você está sozinho / o tempo passa lentamente quando você está fora de si” –, musicalmente, o quarteto brinca com os arranjos de forma essencialmente melancólica. Uma trilha dolorosa que se estende até a faixa de encerramento do disco, Cashmere.

Composta em parceria com a cantora canadense Charlotte Day Wilson, In Your Eyes, décima faixa do trabalho, é outra composição que encanta pelo uso atento dos versos e vozes. “Eu amo o jeito que você se move / É tão tímido”, canta Wilson enquanto a banda aponta de forma decidida em direção ao passado. Arranjos empoeirados, nostálgicos, como se alguma dolorosa canção dos anos 1960 fosse delicadamente resgatada e adaptada para o álbum.

Na ausência de voz, um espaço aberto ao experimento. Um bom exemplo disso está na bem-sucedida faixa-título do disco, pouco mais de seis minutos em que o saxofone de Whitty dança pela mente do ouvinte de forma insana, emulando uma série de conceitos típicos da obra de gigantes como John Coltrane. Em Confessions Pt. II, parceria com o saxofonista e compositor Colin Stetson, uma interpretação pop do jazz apresentado na década de 1970. Batidas e melodias deliciosamente casadas, por vezes dançantes, como uma passagem rápida pelo Jazz-Rap dos primeiros discos do BBNG.

Mesmo longe de parecer um trabalho desafiador dentro do gênero em que está inserido, IV agrada pela leveza e explícito refinamento que marca a estrutura musical proposta pelo quarteto canadense. Trata-se de uma interpretação simples e naturalmente autoral de uma série de conceitos lançados há mais de cinco décadas por diferentes nomes do jazz norte-americano. Uma rápida visita ao passado, porém, tingida de novidade.  

 

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IV (2016, Innovative Leisure)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Kaytranada, Thundercat e Flying Lotus
Ouça: Time Moves Slow, IV e Confessions Pt. II

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.