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Críticas

Giovani Cidreira

: "Japanese Food"

Ano: 2017

Selo: Balaclava Records / Natura Musical

Gênero: Indie, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Mac DeMarco, Milton Nascimento

Ouça: Crimes da Terra, Vai Chover

8.6
8.6

Resenha: “Japanese Food”, Giovani Cidreira

Ano: 2017

Selo: Balaclava Records / Natura Musical

Gênero: Indie, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Mac DeMarco, Milton Nascimento

Ouça: Crimes da Terra, Vai Chover

/ Por: Cleber Facchi 17/04/2017

É necessário tempo até absorver o primeiro álbum de estúdio do cantor e compositor baiano Giovani Cidreira. Na contramão de outros registros próximos, o músico, ex-integrante do grupo Velotroz, faz de cada instante dentro da estreia em carreira solo um curioso experimento. Ideias que passeiam pela obra do Clube da Esquina, mergulham no pós-punk de artistas como The Fall e The Smiths, passeiam pelo pop rock de grupos como Legião Urbana e ainda crescem de forma a dialogar com o mesmo rock confessional de novatos como Mac DeMarco e outros compositores recentes.

De essência curiosa, Japanese Food (2017, Balaclava Records / Natura Musical) flutua entre o passado e o presente de forma a bagunçar a interpretação do ouvinte. Se em instantes as guitarras e distorções de Movimento da Espada aproximam o ouvinte de algum lugar no começo dos anos 1980, bastam os arranjos melódicos e a voz forte de Um Capoeira para mergulhar o público em um universo completamente distinto, por vezes íntimo da mesma psicodelia que alimentou a obra de Milton Nascimento em grande parte dos anos 1970.

Em um intervalo de apenas 50 minutos, tempo de duração da obra, Cidreira parece testar os próprios limites. Composições que atravessam o território particular do artista, caso de Festa de Judas (“Vai na fé / Na festa de Judas, meu amigo”); usam de versos metafóricos como uma forma de se aproximar dos tormentos de qualquer ouvinte, vide Pássaro Prata, parceria com a cantora Josyara (“Eu te assisti calado / E me tornei engano, louca, te esperei / Amanheceu, não tem ninguém”), e ainda borbulham referências que provam a versatilidade do artista.

Comecei a navegar e nada / Porque tudo me parece incerto / Essa culpa percorrendo a calma / Sua falta me deixando mudo”, canta em Última Vida Submarina, perfeito reflexo da poesia intimista e melancólica que acompanha o ouvinte do primeiro ao último ato do registro. Um misto de amargura e realização, conceito que cresce na inaugural Movimento da Espada, se espalha na poesia intimista de Vai Chover e segue até o último instante do disco, em Crimes da Terra, música que parece resgatada do segundo álbum de estúdio da Legião Urbana, o clássico Dois (1986).

A mesma versatilidade presente nos versos se reflete na forma como Cidreira prova de diferentes sonoridades ao longo do trabalho. Um bom exemplo disso está em Última Vida Submarina, música que se espalha em meio a arranjos acústicos, intimistas, porém, cresce na lenta sobreposição de sintetizadores e temas pueris. O mesmo cuidado se reflete ainda em Uma Capoeira, música que vai do uso de temas atmosféricos, serenos, para a lenta utilização de novos possibilidades e fórmulas instrumentais, caso das guitarras e metais que ocupam a segunda metade da faixa.

Com direção musical de Tadeu Mascarenhas e mixtagem assinada pelo cantor e produtor carioca Diogo Strausz (Mahmundi, Alice Caymmi), Japanese Food é um trabalho que cresce significativamente a cada nova audição. Difícil fixar o registro em um gênero ou conceito musical específico, efeito da versatilidade que movimenta o trabalho de Cidreira. Uma coleção de ideias, gêneros e diferentes possibilidades, como se cada composição no interior do álbum fosse apresentada ao público como um registro específico, reflexo da completa maturidade e esmero do músico baiano.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.