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Críticas

Gang Gang Dance

: "Kazuashita"

Ano: 2018

Selo: 4AD

Gênero: Experimental, World Music

Para quem gosta de: Grimes e Animal Collective

Ouça: Kazuashita e Lotus

8.0
8.0

Resenha: “Kazuashita”, Gang Gang Dance

Ano: 2018

Selo: 4AD

Gênero: Experimental, World Music

Para quem gosta de: Grimes e Animal Collective

Ouça: Kazuashita e Lotus

/ Por: Cleber Facchi 03/07/2018

Em um cenário que mesmo globalizado teve grande parte de suas fronteiras fechadas nos últimos anos, Kazuashita (2018, 4AD) nasce como uma obra necessária. Primeiro registro de inéditas do Gang Gang Dance em um intervalo de sete anos, o sucessor do bem-recebido Eye Contact (2011), faz de cada composição uma resposta ao crescente surgimento de grupos xenófobos, a exclusão de imigrantes forçada pelo governo de Donald Trump e toda a crise envolvendo países da Europa, África e Oriente Médio.

Exemplo disso está na essência política de Young Boy (Marika in Amerika), sexta composição do álbum. Centrada na construção poética de um jovem imigrante, a faixa delicadamente se espalha em meio a recortes instrumentais, colagens e diferentes variações rítmicas que indicam a completa versatilidade do grupo nova-iorquino. Um colorido catálogo de ideias, proposta que vem sendo explorada pela banda — hoje formada por Lizzi Bougatsos, Josh Diamond e Brian Degraw —, desde o início dos anos 2000.

De essência conceitual, Kazuashita propõe uma viagem pelo cosmos em busca da conexão e descoberta de novos planetas. Um exercício metafórico, porém, necessário para entender a celebração entre osd povos e delicada troca de culturas proposta pela banda. Frações instrumentais e poéticas que se cruzam a todo instante, porém, sempre dentro de uma estrutura acessível, pop, direcionamento que acompanha o trabalho do grupo desde o amadurecer criativo em Saint Dymphna (2008).

Perfeita representação dessa rica sobreposição de ideias ecoa com naturalidade na extensa faixa-título. São pouco mais de oito minutos em que o trio nova-iorquino se concentra em costurar diferentes fórmulas instrumentais, ritmos e experiências de forma essencialmente curiosa. Da construção das batidas e vozes que dialogam com o trabalho de Grimes, em Visions (2012), passando pelos versos declamados de Oliver Payne, cada elemento da canção parece transportar o ouvinte para um território completamente novo.

Próximo e, ao mesmo tempo, distante do material entregue pelo grupo em Eye Contact, Kazuashita reflete a mesma versatilidade na composição dos temas instrumentais e versos, porém, dentro de uma estrutura claramente provocativa, por vezes intensa. São vozes sampleadas e gritos, como no discurso de J-TREE, além de faixas que sutilmente convidam o ouvinte a dançar, caso do dream-pop-futurístico de Lotus. Surgem ainda preciosidades como Snake Dub e Too Much, Too Soon, músicas em que o trio desacelera para provar de um som inebriante.

O resultado dessa criativa colisão de ideias, experiências e temas políticos está na produção de um dos trabalhos mais completos (e complexos) na carreira do Gang Gang Dance. Trata-se de uma obra curta — são pouco mais de 40 minutos —, porém, maior a cada nova audição, efeito reforçado pela pluralidade de elementos que se escondem ao fundo da obra, como a delicada imagem de capa produzida pelo fotógrafo David Benjamin Sherry e poesia sempre repleta de significados ocultos.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.