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Críticas

Kelly Lee Owens

: "Kelly Lee Owens"

Ano: 2017

Selo: Smalltown Supersound

Gênero: Eletrônica, Techno, Art Pop

Para quem gosta de: Gold Panda, Jamie XX e Daniel Avery

Ouça: CBM, Keep Walking e Anxi.

8.0
8.0

Resenha: “Kelly Lee Owens”, Kelly Lee Owens

Ano: 2017

Selo: Smalltown Supersound

Gênero: Eletrônica, Techno, Art Pop

Para quem gosta de: Gold Panda, Jamie XX e Daniel Avery

Ouça: CBM, Keep Walking e Anxi.

/ Por: Cleber Facchi 31/03/2017

Vozes etéreas, sintetizadores e batidas delicadamente encaixadas na minimalista Anxi, parceria com a cantora sueca Jenny Hval. A letra pegajosa e um atmosfera intimista no interior de músicas como Keep Walking e Lucid. O detalhamento crescente, ruídos e beats secos que ganham forma na pulsante CBM. Um mundo de possibilidades, sutilezas e pequenos experimentos eletrônicos que se espalham com naturalidade entre as canções do primeiro álbum de inéditas da cantora e produtora inglesa Kelly Lee Owens.

Conhecida pela série de composições que vem produzindo desde 2015, Owens passou grande parte do último ano se preparando para a construção do primeiro registro de estúdio. São oito faixas, pouco mais de 40 minutos de duração em que a artista original de North Wales busca pela construção de um som autoral, particular, preferência reforçado na forma como batidas, arranjos e vozes se articulam de forma aproximada. Peças de um imenso quebra-cabeça instrumental que tem início na doce S.O. e segue com leveza até a derradeira 8.

Interessante perceber que mesmo centrada na formação de um álbum homogêneo, coeso, Owens em nenhum momento parece fixar residência em um gênero ou tema instrumental específico. Mesmo protegido por um manto de techno-pop, base de faixas como Evolution e CBM, o trabalho delicadamente se espalha em meio a elementos típicos do trip-hop (Lucid, Keep Walking), experimentalismos eletrônicos (Bird, S.O.) e flertes com o mesmo dream-pop-psicodélico (Throw) testado por Grimes no elogiado Visions, de 2012.

Essa mesma colisão de ideias, ritmos e fórmulas musicais acaba se refletindo na forma como Owens joga com as possibilidades dentro de cada composição. Um bom exemplo disso está na delicada montagem de Evolutions, quinta faixa do disco. Em um intervalo de apenas quatro minutos, tempo de duração da música, a canção essência dançante se fragmenta em três atos diferentes. Batidas e vozes que atravessam a eletrônica dos anos 1990 até alcançar o presente cenário.

Parte do som versátil que orienta o álbum vem da própria educação musical da artista. Além da forte relação com o trabalho de outros produtores da cena britânica, caso de Ghost Culture, Gold Panda e o velho colaborador Daniel Avery, Owens encontrou na obra do compositor Arthur Russell (1951 – 1992) parte expressiva do som produzido para o presente disco. Toda essa devoção acaba se refletindo no toque atmosférico de Arthur, segunda faixa do disco e uma confessa homenagem ao músico norte-americano.

Dançante e experimental na mesma proporção, a estreia de Owens exige uma audição atenta. Perceba como a produtora inglesa pincela vozes, batidas e captações caseiras durante toda a formação do registro. Vozes etéreas, ruídos de correntes, instrumentos pontuais, curvas e pequenas rupturas. Um material ainda em expansão, curioso, indicativo da carreira promissora de Owens, por ora, concentrada em fazer de cada música no interior do trabalho um objeto atrativo para o ouvinte.

 

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.