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Críticas

Tim Hecker

: "Konoyo"

Ano: 2018

Selo: Kranky

Gênero: Experimental, Ambient

Para quem gosta de: Oneohtrix Point Never e Fennesz

Ouça: Keyed Out e In Death Valley

8.2
8.2

Resenha: “Konoyo”, Tim Hecker

Ano: 2018

Selo: Kranky

Gênero: Experimental, Ambient

Para quem gosta de: Oneohtrix Point Never e Fennesz

Ouça: Keyed Out e In Death Valley

/ Por: Cleber Facchi 05/10/2018

Há sempre espaço para a transformação nos trabalhos de Tim Hecker. Em um permanente estágio de reinvento, o produtor canadense passou as últimas duas décadas brincando com a desconstrução da própria identidade artística, conceito que se reflete na entrega de obras atmosféricas, como Harmony in Ultraviolet (2006), instantes de puro experimento, caso de Ravedeath, 1972 (2011), e até exercícios em que utiliza da voz como um instrumento complementar, vide Love Streams (2016).

Nono álbum de inéditas na carreira de Hecker, Konoyo (2018, Kranky) — do japonês, “esta vida” —, nasce como um perfeito exemplo da capacidade do artista norte-americano em se reinventar dentro de estúdio. Inspirado de maneira confessa na estrutura dramática do Gagaku, um espetáculo de música e dança apresentado durante séculos na antiga corte japonesa, o trabalho de essência mística flutua entre instantes de declarada contemplação, fúria e delírio, jogando de maneira instável com a experiência do ouvinte.

Nascido a partir de uma incursão do músico pelo Japão, Konoyo, assim como o trabalho que o antecede, o já citado Love Streams, distancia Hecker do parcial isolamento dos primeiros discos, aproximando o artista canadense de um time seleto de novos colaboradores. São percussionistas e músicos que mantém viva a tradição do Gagaku, fazendo com que o registro, mesmo concebido a partir de colagens eletrônicas e ruídos metálicos, preserve uma estrutura minimamente orgânica.

Exemplo disso ecoa com naturalidade na extensa In Mother Earth Phase, quinta faixa do disco. Entre sintetizadores enevoados e colagens eletrônicas, flautas transversais assumidas pela dupla Takuya Koketsu e Motonori Miura, além, claro, do melancólico violoncelo de Mariel Roberts, delicadamente ampliam os limites da obra de Hecker. São pouco mais de dez minutos em que paisagens atmosféricas transportam o som produzido pelo músico canadense para um novo território, crescendo e encolhendo a todo instante, sem pressa.

Na derradeira Across to Anoyo, a mesma pluralidade de instrumentos, porém, trabalhados dentro das ambientações escuras e linguagem própria de Hecker. Da percussão minimalista de Yoshiyuki Izaki, passando pela avalanche de ruídos e pinceladas harmônicas, cada segundo dentro da composição revela ao público um sem-número de texturas e camadas a serem desvendadas de forma minuciosa. Nada que se compare ao som detalhista de In Death Valley, música que dialoga com a boa fase do austríaco Fennesz, em Endless Summer (2001).

Por vezes intenso, como na colisão de ideias que bagunça a inaugural This Life, no minimalismo sujo de A Sodium Codec Haze ou mesmo na ruidosa Keyed Out, Konoyo tinge com parcial ineditismo parte do som que vem sendo produzido pelo artista desde o início da presente década. Um labirinto de fórmulas inexatas, corrupções estéticas e pequenas incertezas, como se a cada nova audição, Hecker convidasse o ouvinte a se perder em um ambiente cada vez mais complexo e desafiador.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.