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Críticas

Emicida / Rael / Capicua / Valete

: "Língua Franca"

Ano: 2017

Selo: Sony Music / Laboratório Fantasma

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Criolo e Rashid

Ouça: Ela, AFROdite e (A)Tensão

8.6
8.6

Resenha: “Língua Franca”, Emicida, Rael, Capicua, Valete

Ano: 2017

Selo: Sony Music / Laboratório Fantasma

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Criolo e Rashid

Ouça: Ela, AFROdite e (A)Tensão

/ Por: Cleber Facchi 01/06/2017

Não é de hoje que Emicida encontrou no trabalho em parceria com diferentes artistas o principal combustível para um novo registro autoral. Da colaboração com Projota e Rashid em 3 Temores in Concert: Ao Vivo no Estúdio Emme (2012), passando pela série de encontros dentro de cada novo álbum de estúdio – caso de Tulipa Ruiz, Criolo, Pitty, Juçara Marçal e Caetano Veloso –, a rima do rapper paulistano assume novos contornos e invade territórios quando completa pelo diálogo criativo com outro nome de peso da música – seja ele representante do Hip-Hop ou não.

Em Língua Franca (2017, Sony Music / Laboratório Fantasma), mais recente trabalho apresentado pelo artista, não poderia ser diferente. Trata-se de um bem-sucedido encontro entre o rapper paulistano, o parceiro de longa data, Rael, e os colaboradores portugueses Capicua e Valete. São dez composições que contam com a produção dividida entre Kassin, Fred Ferreira e NAVE Beatz. Rimas, batidas e histórias que fazem da língua portuguesa a ponte e atravessa o Oceano Atlântico e aproxima Brasil e Portugal.

Como indicado durante o lançamento de Ela, composição escolhida para apresentar o trabalho, o projeto de essência coletiva nasce como uma obra marcada pela celebração. “Ela quem me afasta do mal / Me livra dos pé de breque / Minha oração, ritual / Ela é quem é“, canta Rael no metafórico refrão da canção, um indicativo da força da música como agente transformador da sociedade. Uma declarada exaltação à vida, cultura, marginalizados, família e aos amigos, conceito também evidente logo na faixa de abertura do disco – “Irmão de raiz, essa aqui eu fiz em tua homenagem“.

A exaltação ao feminino é outro elemento importante para crescimento do Língua Franca. Dos versos de Capicua, cresce um mundo de possibilidades e citações que preenchem o trabalho com naturalidade. Nada que se compare ao cuidado na composições de AFROdite, quarta faixa do registro. “No rosto da primeira mulher / A africana / Vês o rosto de todas as mulheres da raça humana … E não te atrevas a dizer / Que ela vem da tua costela / Se até Adão saiu de dentro da barriga dela“, rima a artista portuguesa enquanto dialoga com diferentes personagens históricas.

Para além do universo criativo do próprio quarteto, Língua Franca estabelece pequenas conexões e influências que expandem os domínios do trabalho. Um bom exemplo disso está na melódica Gênios Invisíveis. Em um intervalo de apenas quatro minutos, cada integrante do projeto reforça a importância da música negra – samba, soul, funk e Hip-Hip – em um criativo jogo de palavras e referências que passam pela obra de Jimi Hendrix, Chuck Berry, Kendrick Lamar e Neneh Cherry. Uma mistura de ritmos e rimas que reforça a versatilidade e força do álbum.

Mesmo embalado pelo aspecto libertador dos versos, Língua Franca em nenhum momento se distancia da crítica social, pequenas provocações e do olhar atento sobre a nossa sociedade. Das trincheiras urbanas exploradas em A Chapa é Quente ao tom sombrio de (A)Tensão, música que reflete sobre diferentes conflitos ao redor do globo, a colaboração entre Emicida, Rael, Capicua e Valete garante ao público uma obra que encontra na realidade um poderoso componente criativo. Instantes em que sorrisos e momentos de forte contestação servem de estímulo para a poesia de cada integrante da obra.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.