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Críticas

Justin Timberlake

: "Man of the Woods"

Ano: 2018

Selo: RCA

Gênero: R&B, Pop

Para quem gosta de: Bruno Mars e Usher

Ouça: Wave, Supplies e Young Man

4.0
4.0

Resenha: “Man of the Woods”, Justin Timberlake

Ano: 2018

Selo: RCA

Gênero: R&B, Pop

Para quem gosta de: Bruno Mars e Usher

Ouça: Wave, Supplies e Young Man

/ Por: Cleber Facchi 05/02/2018

Passada a extensa e naturalmente exaustiva audição de Man of the Woods (2018, RCA), quinto registro em carreira solo de Justin Timberlake, é difícil não se questionar: o que está acontecendo aqui? Riffs de guitarra se encontram com ambientações típicas do R&B, batidas eletrônicas se abrem para a inserção de arranjos acústicos, íntimos da música country, vozes cíclicas se espalham em um esforço contínuo de ocupar toda e qualquer lacuna instrumental, evitando possíveis respiros. Uma obra de excessos, permanente ruptura, colagens e ideias essencialmente desconexas, como pinceladas abstratas em uma tela já finalizada.

Produto do confesso desejo de Timberlake em resgatar elementos da própria juventude na região de Memphis, Tennessee, o sucessor do bem-recebido The 20/20 Experience (2013) mostra o esforço do artista em replicar aspectos do cancioneiro norte-americano de forma particular. São diálogos improváveis com diferentes ritmos – country, folk, blues, R&B, soul e funk –, além, claro, de versos que refletem a relação do músico com a própria família. “Este álbum é realmente inspirado pelo meu filho, minha esposa, minha família, mas, mais do que qualquer álbum que eu já escrevi, de onde eu venho“, respondeu em entrevista à Billboard.

De fato, do título do disco – cuja inspiração descende do significado de Silas, nome dado ao filho do cantor –, passando pela voz fantasmagórica da atriz Jessica Biel, esposa de Timberlake, em diversos momentos do disco, Man of the Woods funciona como a passagem para um universo próprio do músico. Mesmo o time de produtores escalados para as gravações do álbum é composto apenas por velhos colaboradores, caso de Timbaland, Danja, J-Roc e a dupla The Neptunes, formada por Pharrell Williams e Chad Hugo. É justamente dentro desse ambiente tão restritivo que sobrevive a principal força criativa e consequente tropeço da obra: Man of the Woods é um registro feito apenas para Timberlake.

Por mais acessíveis que músicas como Sauce, Wave e Supplies possam parecer, faltam elementos e instantes de fato capazes de fisgar a atenção do público. Momentos de genuína criatividade são facilmente identificados no decorrer da obra, mas logo acabam se perdendo em meio a composições confusas e arrastadas, talvez completas apenas na mente de seu realizador, caso da inaugural Filthy. Onde estão as canções capazes de igualar a boa forma de SeñoritaSexyBack, My Love, Suit & Tie e demais hits já produzidos pelo cantor?

Mesmo quando voltamos os ouvidos para o lado mais “experimental” do trabalho, Man of the Woods parece longe de igualar o mesmo cuidado evidente no repertório de The 20/20 Experience – vide a rica base eletrônica e versos detalhados em faixas extensas como Tunnel Vision e Mirrors. Falta ritmo e conexão entre as faixas, o que torna a audição do disco arrastada, cansativa. A própria colaboração com Alicia Keys, em Morning Light, ou mesmo o reencontro com o cantor Chris Stapleton, na delicada Say Something, acaba passando despercebida frente ao conjunto de excessos que se acumulam em um intervalo de mais de 60 minutos de duração.

Confuso, Man of the Woods mostra o esforço claro de um artista que busca se reinventar dentro de estúdio, porém, a todo instante tropeça em meio a ideias tortas e constantes delírios criativos. Falta identidade e esmero na composição do trabalho, como se Timberlake fosse incapaz de igualar o mesmo cuidado evidente em alguns de seus registros menos interessantes, caso do desnecessário The 20/20 Experience – 2 of 2 (2013) ou mesmo a trilha sonora do filme Trolls (2016), de onde fez brotar o hit Can’t Stop The Feeling. Do primeiro ao último acorde, uma verdadeira coletânea de erros, como um sofrível regresso do artista ao universo pré-Justified (2002).

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.