Resenha: “Migration”, Bonobo

/ Por: Cleber Facchi 17/01/2017

Artista: Bonobo
Gênero: Eletrônica, Downtempo, Alternativo
Acesse: http://www.bonobomusic.com/

 

Em 2013, poucos meses após o lançamento do mediano The North Borders, Simon Green foi convidado a assinar a nova edição da coletânea Late Night Tales. No repertório comandado pelo produtor inglês, uma verdadeiro mosaico de ideias. Entre composições “inéditas” – caso do cover de Get Thy Bearings –, a delicada adaptação do trabalho produzido por Nina Simone (Baltimore), BADBADNOTGOOD (Hedron), Shlohmo (Places) e até trechos de um poema declamado pelo ator Benedict Cumberbatch.

Sexto registro de inéditas do artista de Brighton, Migration (2017, Ninja Tine) não apenas preserva a essência versátil do trabalho lançado há três anos, como revela ao público um dos registros mais complexos de toda a trajetória do músico britânico. Com um pé na cena eletrônica do final da década de 1990, e outro no presente cenário, Green finaliza uma obra detalhada pelo uso de melodias hipnóticas, batidas e vozes orquestradas como um precioso instrumento.

Inaugurado pela sutileza eletrônica da faixa-título do disco, Migration se revela por completo logo nos primeiros minutos. Melodias sintéticas, vozes psicodélicas e pianos que encantam e crescem com maior naturalidade na melancolia de Break Apart, segunda música do trabalho e um bem-sucedido encontro do produtor com a dupla Rhye. O mesmo cuidado se reflete na extensa Outlair, terceira faixa do disco e uma espécie de resgate da IDM melódica produzida por Aphex Twin no final dos anos 1990.

Quarta faixa do disco, a instável Grains revela o lado mais experimental do trabalho. Instantes em que as batidas produzidas por Green apontam para todas as direções, revelando um som propositadamente torto, provocante. Curioso perceber em Second Sun, apresentada logo em sequência, uma completa fuga desse mesmo resultado. São arranjos orquestrais, pianos e entalhes eletrônicos que parecem pensados como a música de encerramento de algum filme ou série romântica.

Ao lado de Nicole Miglis, vocalista do Hundred Waters, Bonobo monta a crescente Surface, música que parece replicar conceitos originalmente testados no álbum The Moon Rang Like A Bell, de 2014. O mesmo diálogo com o trabalho de outros artistas se reflete ainda em Bambro Koyo Ganda, parceria com o coletivo marroquino Innov Gnawa e o australiano Nick Murphy/Chat Faker em No Reason, faixa que mais se distancia do restante do álbum, revelando o tempero comercial do produtor convidado.

No restante do trabalho – Kerala, Ontario, 7th Sevens e Figures –, Green parece testar de forma curiosa os próprios limites. São composições que naturalmente que se distanciam das pistas, flertam de forma curiosa com a World Music e ainda transportam o ouvinte para dentro de diferentes cenários, épocas e estilos musicais. Pequenas possibilidades, quebras e rupturas, fazendo de Migration uma rica tapeçaria criativa do primeiro álbum último instante da obra.

 

Migration (2017, Ninja Tine)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Tycho, Four Tet e Massive Attack
Ouça: Break Apart, Outlair e Surface

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.