Resenha: “Modern Country”, William Tyler

/ Por: Cleber Facchi 09/06/2016

Artista: William Tyler
Gênero: Folk, Instrumental, Alt. Country
Acesse: https://www.facebook.com/williamtylermusic

 

Modern Country. O título escolhido para o terceiro registro em estúdio de William Tyler parece dizer muito sobre o conceito explorado pelo guitarrista norte-americano. Depois de dois grandes álbuns que estreitaram ainda mais a relação com a música de raiz estadunidense – Behold the Spirit (2010) e Impossible Truth (2013) –, o artista original de Nashville, Tennessee, interpreta o presente lançamento como um misto de preservação da própria identidade e busca declarada por novas possibilidades.

Acompanhado de perto pelos músicos Glenn Kotche, baterista do Wilco, e Phil Cook, tecladista do Megafaun, Tyler delicadamente expande o universo de ambientações e temas instrumentais originalmente inaugurado há seis anos. São verdadeiras paisagens sonoras, como se o guitarrista buscasse detalhar um mundo de pequenas histórias a partir da manipulação sutil dos acordes. Uma obra que se espalha sem pressa, acolhedora do primeiro ao último instante.

Coeso, Modern Country parece seguir a trilha do registro entregue há três anos. Salve exceções, como a inaugural Highway Anxiety e a derradeira The Great Unwind, Tyler se concentra na produção de faixas mais curtas, acessíveis. É o caso de Gone Clear. Canção escolhida para apresentar o disco, a música de apenas seis minutos se fragmenta em diferentes movimentos, revelando instantes marcados pela fluidez das guitarras, como pelo encaixe certeiro de sons atmosféricos, pano de fundo para grande parte das composições.

Interessante notar que mesmo nas faixas mais extensas disco, Tyler e os parceiros de estúdio evitam a construção de um álbum arrastado, climático. Em The Great Unwind, por exemplo, o som tradicionalmente compacto das guitarras se abre para a formação de um ato ruidoso, sujo, como uma fuga dos temas bucólicos anteriormente testados pelo instrumentistas. Ao mesmo tempo em que se projeta como uma obra segura, íntima dos antigos trabalhos de Tyler, experimentos pontuais transportam o ouvinte para um novo universo.

Parte desse material parece dialogar diretamente com os antigos trabalhos do guitarrista. Mais conhecido pelo trabalho realizado desde o fim da década de 1990 com bandas como Lambchop e Silver Jews, Tyler transporta para dentro do novo álbum uma série de elementos e conceitos dos projetos em que esteve envolvido anteriormente. Canções como Sunken Garden e I’m Gonna Live Forever (If It Kills Me), que se viessem acompanhadas de versos, poderiam facilmente ser encontradas em registros produzidos por artistas como Wilco, Steve Gunn ou mesmo os antigos projetos de Tyler.

Essencialmente minucioso, Modern Country se revela como uma obra tão completa (e complexa) quanto qualquer outro trabalho anteriormente entregue pelo guitarrista norte-americano. Ao fundo de cada composição, Tyler pinta uma paisagem mutável, sempre detalhista, convidando o ouvinte a se perder entre o intervalo que vai de Highway Anxiety até o último ruído de The Great Unwind.

 

Modern Country (2016, Merge)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Wilco, Lambchop e Steve Gunn
Ouça: Gone Clear, Kingdom of Jones e The Great Unwind

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.