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Críticas

Lucas Santtana

: "Modo Avião"

Ano: 2017

Selo: Natura Musical

Gênero: MPB, Alternativo

Para quem gosta de: Curumin, Otto e Wado

Ouça: Modo Avião e Só o Som

8.5
8.5

Resenha: “Modo Avião”, Lucas Santtana

Ano: 2017

Selo: Natura Musical

Gênero: MPB, Alternativo

Para quem gosta de: Curumin, Otto e Wado

Ouça: Modo Avião e Só o Som

/ Por: Cleber Facchi 09/06/2017

Existem duas formas de ouvir o novo álbum do cantor e compositor baiano Lucas Santtana, Modo Avião (2017, Natura Musical). A primeira delas, segue a fragmentada separação e reprodução isolada de cada faixa. São dez composições inéditas, pouco mais de trinta minutos em que a ambientação eletrônica e orquestral originalmente testada no antecessor Sobre Noites e Dias (2014) ganha novos contornos. Arranjos e movimentos contidos, como uma fina tapeçaria instrumental que envolve e acolhe a poesia intimista do músico.

Entretanto, a real beleza e melhor forma de apreciar o trabalho está no misto de prosa e poesia que caracteriza a formatação original da obra: a de um áudio filme. São pouco mais de 40 minutos em que Santtana tece uma delicada narrativa que aproxima e conecta cada uma das faixas do disco. Uma história contada a partir da captação em 360º dos instrumentos e vozes, transportando o ouvinte para dentro da história de amor, delírio e pequenas reflexões sobre diferentes aspectos da nossa sociedade.

De essência conceitual, proposta anteriormente testada no doloroso O deus que devasta mas também cura (2012), Modo Avião tem início no encontro entre dois estranhos durante um voo. “É sério que você vai comer isso aí?“, questiona a voz feminina que desencadeia a série de eventos, aproximações e desencontros durante toda a construção do trabalho. Debates sobre tempo e espaço, consumismo, relações pessoais, a separação entre o mundo físico e o digital, amor e excessos que perturbam a mente de qualquer indivíduo.

Dentro dessa estrutura preestabelecida, linear, Santtana transforma os próprios conflitos no combustível para o roteiro instrumental e poético que ganha forma ao longo do registro. Divagações metafóricas sobre ruptura e transformação, base da inaugural Só o Som; escapismos e a constante necessidade de mudança, marca da crescente Um Enorme Rabo de Baleia ou mesmo reflexões sentimentais sobre a vida a dois, tema dissolvido entre os versos da acústica Brasa de Dois, sexta faixa do disco.

Junto de Santtana, um time seleto de colaboradores que surgem em momentos estratégicos do disco. Para a co-produção do trabalho, o músico baiano contou com a presença do experiente Fabio Pinczowski (Ludov, Hélio Flanders), também responsável pelos sintetizadores do álbum. Com arranjos de cordas assinados por Marcelo Cabral (Criolo, Rodrigo Campos), o registro voa alto, aterrissando com leveza em território escandinavo, terra do Quarteto de Cordas da Dinamarca, destaque na faixa-título da obra.

Como um desfecho provocativo e surpreendente que força o regresso do ouvinte até o começo da obra, Modo Avião mostra a capacidade de Lucas Santtana em se reinventar dentro de estúdio. Trata-se de uma obra marcada pelas sensações. Instantes em que a poesia confessional do cantor e compositor baiano delicadamente se converte em imagem, transportando o próprio ouvinte para dentro da história montada para o disco. Um fino exercício de renovação, como se Santtana testasse todas as possibilidades.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.