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Críticas

Sabine Holler

: "Mother of Transition"

Ano: 2017

Selo: Hérnia de Disco

Gênero: Indie Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Fiona Apple e Julia Holter

Ouça: Hot Sauce e Everything I Want To Be

8.1
8.1

Resenha: “Mother of Transition”, Sabine Holler

Ano: 2017

Selo: Hérnia de Disco

Gênero: Indie Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Fiona Apple e Julia Holter

Ouça: Hot Sauce e Everything I Want To Be

/ Por: Cleber Facchi 06/06/2017

Em mais de uma década de carreira, Sabine Holler em nenhum momento pareceu se repetir. Seja como fundadora do grupo paulistano Jennifer Lo-Fi, colaboradora na banda Emma Stoned ou no projeto de música eletrônica Mawn, situado em Berlim, cada trabalho assinado pela cantora, compositora e produtora paulistana passeia por diferentes décadas, cenas e referências instrumentais como um delicado exercício criativo, postura que se repete dentro do primeiro EP em carreira solo, Mother of Transition (2017, Hérnia de Disco).

Produzido em parceria com Billy Comodoro (In Venus, Bárbara Eugênia), em janeiro deste ano, o trabalho de apenas sete faixas faz de cada composição um objeto precioso. São músicas orientadas em essência pela voz forte de Holler, madura e por vezes íntima da obra de veteranas da música alternativa – vide a semelhança com os timbres de PJ Harvey e Julia Holter. Um cuidado que se estende da inaugural Filtered My Voice até a derradeira Planetarium (Through Binoculars).

Um cuidadoso jogo entre as guitarras atmosféricas e vozes limpas de Holler, protagonista da própria obra como a inaugural Filtered My Voice reforça. “Desligue esse medo / Faça com que eu pare de me combater”, canta a artista em um declarado conflito pessoal. “Confrontando meu peso / Meus pés queriam escapar / Não esqueça de respirar / Vou mudar esses meus maus hábitos”, completa em Bad Habits, claro exercício de libertação, conceito que orienta o ouvinte durante toda a construção da obra. Instantes em que a musicista busca se encontrar.

A medida que o trabalho avança, Holler cresce com naturalidade na montagem dos versos e arranjos. Um bom exemplo disso está na intimista Everything I Want To Be, quarta faixa do disco. Ao mesmo tempo em que brinca com as metáforas – “Tudo que eu quero ser é destemida / Suor frio / Prosperar / Comendo minhas mãos / Então eu posso te mostrar as mordidas” –, melodias cuidadosamente tecidas esbarram no minimalismo claustrofóbico de Fiona Apple em Valentine, parte do álbum The Idler Wheel… (2012). Um som que mesmo contido, econômico, se revela grandioso nos sentimentos e vozes.

O mesmo cuidado se reflete ainda em Hot Sauce, música em que o existencialismo de Holler se converte em pura confissão romântica. “Nossos corpos estão embebidos em molho quente / Eu lambo sua barriga / Mas eu quero uma jarra de você na minha boca”, canta em um fino exercício de provocação. Quinta faixa do disco, The Hanged Woman não apenas reforça o mesmo cuidado na construção dos versos – “Eu sou a mulher pendurada / E a encruzilhada é minha espinha” –, como ainda autoriza o completo domínio das guitarras, densas, invasivas, por vezes íntimas da obra da guitarrista no Jennifer Lo-Fi.

Provocante, Mother of Transition se fecha dentro de um núcleo reservado de colaboradores. Além do já citado Billy Comodoro, nomes como Desirée Marantes (cordas), Victor Vieira-Branco (vibrafone) e Luccas Villela (baixo e bateria) se articulam de forma a completar as pequenas lacunas do disco. Um claro exercício de transformação, como se Holler fizesse de todo o material produzida na última década um delicado aperitivo para o prato principal que se revela em cada uma das canções do presente álbum.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.