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Críticas

Susanne Sundfør

: "Music for People in Trouble"

Ano: 2017

Selo: Bella Union

Gênero: Art Pop, Jazz, Folk

Para quem gosta de: Jenny Hval e Björk

Ouça: Undercover e The Sound of War

8.0
8.0

Resenha: “Music for People in Trouble”, Susanne Sundfør

Ano: 2017

Selo: Bella Union

Gênero: Art Pop, Jazz, Folk

Para quem gosta de: Jenny Hval e Björk

Ouça: Undercover e The Sound of War

/ Por: Cleber Facchi 08/12/2017

Susanne Sundfør é um desses casos raros de artistas que fazem de cada trabalho a passagem para um novo universo de experiências. Basta voltar os ouvidos para os últimos registros de inéditas da cantora e compositora norueguesa, caso de The Silicone Veil (2012) e Ten Love Songs (2015), para perceber como o Art Pop da multi-instrumentista de Oslo se quebra em inúmeras camadas, revelando um som que flutua por entre décadas e referências instrumentais sempre distintas.

Em Music for People in Trouble (2017, Bella Union), quinto registro de inéditas de norueguesa, curioso perceber no agrupar das composições uma obra que encolhe e cresce na mesma proporção. Distante do synthpop etéreo testado no último álbum de inéditas, Sundfør se concentra na produção de um material adornado pelo uso de temas acústicos e passagens breves pelo pop de câmara produzido entre o final dos anos 1960 e início da década de 1970. Um som minucioso, essencialmente acolhedor.

Claramente influenciada pela obra de veteranos como Vashti Bunyan, Leonard Cohen, Joni Mitchell e demais representantes do folk produzido nos anos 1970, Sundfør entrega ao público uma obra que se revela em pequenas doses, sussurrando melodias deliciosamente brandas. Do momento em que tem início em Mantra, música em que lembra Lykke Li em sua fase mais recente, até alcançar a derradeira Mountaineers, parceria com John Grant, harmonias acústicas sopram para longe todo e qualquer excesso.

Partindo desse ambiente acolhedor, Sundfør sutilmente recria um mundo próprio. Borbulham flertes com o jazz, caso da atmosférica Good Luck Bad Luck, música em que aparece cercada por um time de instrumentistas, além da tímida Badtime Story, uma das canções mais delicadas do trabalho. Em The Sound of War, captações de campo e pequenas experimentações que tocam de leve no universo New Age, como se a musicista norueguesa expandisse parte do material testado nos últimos discos.

Ainda assim, é quando todos esses elementos se encontram, que Music for People in Trouble alcança melhor resultado. Prova disso está nos arranjos e vozes preciosas que crescem no interior de Undercover, sétima faixa do disco. Em um intervalo de apenas quatro minutos, Sundfør vai do folk/contry dos anos 1970 ao pop barroco de Scott Walker e Kate Bush, conduzindo o ouvinte em meio a um universo de sentimentos, temas intimistas e emanações ora acolhedoras, ora angustiadas.

Passagem direta para um ambiente de emanações particulares e versos que vão da separação ao existencialismo sombrio do eu lírico, em Music for People in Trouble, Sundfør faz de cada composição um objeto precioso, raro. Um lento desvendar de ideias e experiências sensoriais, como se mesmo na maturidade alcançada durante a produção de Ten Love Songs a cantora e compositora norueguesa fosse capaz de ir além, conduzindo o ouvinte pelo interior de uma obra mágica.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.