Resenha: “Not Even Happiness”, Julie Byrne

/ Por: Cleber Facchi 23/01/2017

Artista: Julie Byrne
Gênero: Folk, Dream Pop, Indie
Acesse: https://juliembyrne.bandcamp.com/

 

 

“Siga minha voz
Estou bem aqui
Além dessa luz
Além de todo o medo”

Como um precioso convite, a inaugural Follow My Voice conduz o ouvinte para dentro do ambiente acolhedor que se espalha entre as canções de Not Even Happiness (2017, Ba Da Bing). Segundo e mais recente álbum de estúdio da cantora e compositora norte-americana Julie Byrne, o registro de apenas nove faixas amplia o conceito intimista apresentado no antecessor Rooms With Walls and Windows, de 2014, reforçando o folk sentimental e atmosférico que alimenta a obra da musicista.

Em ambiente enevoado, por vezes etéreo, efeito da voz marcada pelo som ecoado da captação e arranjos sutilmente espalhados ao longo do disco, Byrne convida o ouvinte a se perder. Como indicado durante o lançamento de Natural Blue, grande parte do registro flutua entre o folk melancólico da década de 1970 e o Dream Pop produzido nos anos 1990 e 2000. Instantes em que a obra da cantora nova-iorquina toca de forma referencial no trabalho de Joni Mitchell, Nico, Cat Power e Grouper, esta última, influência declarada na experimental Interlude.

De essência agridoce, Not Even Happiness se divide com naturalidade entre a melancolia dos versos e instantes de puro romantismo que crescem na voz de Byrne. “Caminhe em direção à ferida aberta / Viva em sonhos / Eu vou ficar para sempre / Dentro das cores que você mostrou”, canta em Natural Blue, uma canção que olha para o passado de forma honesta, resgatando fragmentos de um relacionamento que não deu certo, mas que continua a povoar a mente do eu lírico.

Posicionada no encerramento do disco, I Live Now As A Singer brinca de forma particular com a mesma temática. Enquanto os versos resgatam memórias recentes de Byrne (“E sim, eu fui ao chão, pedindo perdão / Quando eu não estava nem perto de me perdoar”), musicalmente, o ouvinte é conduzido para dentro de uma nuvem de sons inebriantes. Arranjos acústicos que se espalham em meio a sintetizadores densos, por vezes íntimos do som produzido por Angelo Badelamenti para a trilha sonora de Twin Peaks.

Em Sleepwalker, segunda faixa do disco, um retrato da poesia honesta que se espalha ao longo do disco. “Eu vivi minha vida sozinho antes de você / E com pensamentos que eu nunca teria sucesso no amor / E eu me acostumei com esse tipo de solidão”, canta Byrne. Na canção seguinte, Melting Grid, o mesmo detalhamento na construção dos versos, completos pelo mesmo lirismo de artistas como Vashti Bunyan – “Nossas conversas se acumularam em mim e eu quase esqueci a natureza do amanhecer / Pensei nisso por dias, mesmo meses depois que os momentos se foram”.

Acolhedor do primeiro ao último acorde, Not Even Happiness parece dialogar com a mesma essência melancólica que cresce em uma série de obras recentes. Trabalhos produzidos por cantoras como Angel Olsen e Sharon Van Etten. Um universo de confissões apaixonadas, recordações amargas e sussurros intimistas que se conectam diretamente com o ouvinte, sutilmente conduzido para dentro desse cenário dominado por lembranças, amores e desilusões.

 

Not Even Happiness (2017, Ba Da Bing)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Angel Olsen, Weyes Blood e Sharon Van Etten
Ouça: Natural Blue, Follow My Voice e I Live Now As A Singer

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.