Resenha: “Nothing’s Real”, Shura

/ Por: Cleber Facchi 18/07/2016

Artista: Shura
Gênero: Electronic, Synthpop, Alternative
Acesse: http://weareshura.com/

 

Do lançamento de Touch, em meados de 2014, até alcançar o recém-lançado Nothing’s Real (2016, Polydor), a cantora e compositora britânica Shura passou por um lento processo de refinamento artístico. Inicialmente ancorada em referências típicas do Synthpop/R&B produzido no final da década de 1980, a artista original da cidade de Manchester decidiu aos poucos ampliar a próxima sonoridade, colecionando temas e referências eletrônicas que passam por diferentes décadas e agrupamentos musicais.

Inspirada de forma confessa em nomes antigos (Mariah Carey, Prince, Madonna) e recentes (Haim, Blood Orange) da música pop, a cantora faz do primeiro álbum de estúdio uma delicada colcha de retalhos. São composições que atravessam a década de 1980 (What’s It Gonna Be), esbarram na música negra dos anos 1990 (2Shy) e alcançam os experimentos da presente década (White Light) de forma sempre despojada, leve e autoral.

Sutilmente dividido em duas metades, Nothing’s Real sustenta no primeiro bloco de composições o lado mais dançante e “pop” do trabalho. Um bom exemplo disso está na própria faixa-título do disco. São pouco mais de quatro minutos em que batidas e sintetizadores que emulam violinos abraçam a Disco Music de forma reformulada, como um convite para dançar. Fragmentos instrumentais que revelam a completa nostalgia da cantora.

O mesmo teor radiofônico acaba se revelando em músicas como What’s It Gonna Be e Indecision. Enquanto a primeira incorpora parte das melodias exploradas pelo Haim em Days Are Gone, de 2013, na segunda canção, Shura mergulha de cabeça no mesmo synthpop pegajoso de artistas como CHVRCHES e La Roux. Sobra ainda a melancólica What Happened To Us?, composição que flutua entre o passado e o presente de forma dolorosa e curiosamente dançante.

Com a chegada de (ii), a passagem para o segundo ato do registro. São faixas como Tongue Tie e Make It Up em que a relação com R&B ecoa de forma ainda mais complexa. Guitarras sempre climáticas, versos entristecidos e a completa exposição de Shura. O mesmo pop nostálgico que inaugura o disco, porém, sutilmente maquiado por experimentos, ruídos eletrônicos e toda uma nova carga de referências, como se todos os elementos indicassem a busca por uma nova sonoridade.

Mesmo a escolha das extensas White Light e The Space Tapes como faixas de encerramento do disco serve para explicitar a permanente necessidade de renovação por parte da cantora. Composições que naturalmente dialogam com o material inicialmente produzido por Shura, porém, acabam mergulhando em um mundo de arranjos climáticos, loops e vozes sampleadas. Um forte indicativo do som que deve abastecer o trabalho da cantora pelos próximos anos.

 

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Nothing’s Real (2016, Polydor)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Sky Ferreira, CHVRCHES e Jamie XX
Ouça: What’s It Gonna Be, 2Shy e White Light

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.