Resenha: “Number 1 Angel”, Charli XCX

/ Por: Cleber Facchi 07/04/2017
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Os últimos meses foram bastante corridos para Charli XCX. Entre projetos paralelos, como a dublagem de um personagem em Angry Birds – O Filme (2016), músicas compostas para outros artistas, caso de Drum, da norueguesa MØ, e até o lançamento do próprio selo/EP, Vroom Vroom, a cantora e produtora britânica ainda correu para finalizar as canções do novo e ainda inédito álbum de estúdio. Todavia, antes de apresentar o aguardado sucessor de Sucker (2014), a artista decidiu presentear o público com uma nova mixtape: Number 1 Angel (2017, Asylum).

Distante das guitarras incorporadas ao último registro de estúdio ou mesmo do som ruidoso e eletrônico de Vroom Vroom, XCX faz do novo lançamento um bem-sucedido regresso ao universo musical do pegajoso True Romance (2013). São dez composições descomplicadas, dançantes e naturalmente íntimas do público fiel da cantora. Músicas que flutuam entre o pop plástico dos anos 1990, as batidas do Hip-Hop e o mesmo som eletrônico adotado pela artista desde o começo da presente década.

Sem ordem aparente, XCX faz de cada composição ao longo do trabalho a possibilidade de se aventurar em estúdio com um novo produtor. Mesmo que o conterrâneo A. G. Cook (PC Music) assuma o controle de parte expressiva da obra, detalhando a produção de quatro faixas diferentes — Dreamer, Blame It on You, White Roses e Drugs —, a permanente mudança no ritmo e atmosfera das canções faz de Number 1 Angel um trabalho dinâmico e atrativo até o último segundo.

Junto de Cook, um time seleto de colaboradores. Nome de destaque do selo PC Music, Easy FX é quem assina a produção de 3AM (Pull Up), faixa mais pegajosa do disco. Parceiro de longa data da cantora, SOPHIE detalha a suja Roll with Me, música que parece saída do último EP de XCX. Em ILY2, sexta faixa do trabalho, os sintetizadores e inserções precisas de Danny L Harle. Para a comercial Babygirl o pulso firme de John Hill, produtor que trabalhou ao lado de Rihanna, Shakira e outros nomes de peso da música pop.

A mesma pluralidade se reflete na forma como diferentes vozes se espalham pelo interior do trabalho. Logo na abertura do disco, em Dreamer, um encontro com a rapper Starrah e a conterrânea britânica Raye. Colaboradora recente, MØ assume uma posição de destaque em 3AM (Pull Up), faixa mais acessível do disco. Para o encerramento da obra, uma sequência de músicas em parceria: Babygirl com a cantora norte-americana Uffie, Drugs em parceria com ABRA e Lipgloss com a rapper Cupcakke.

Dotado de um raro frescor, Number 1 Angel nasce como um produto da completa insatisfação de XCX pelo atraso da gravadora na liberação do terceiro álbum de estúdio. “Eu só fiquei entediada e fiz uma série de canções. Então decidi botar pra fora [esse material]”, disse em entrevista à Rolling Stone. O resultado está na construção de uma obra que cola no ouvido logo em uma primeira audição. Um declarado “aperitivo”, porém, com gosto de prato principal.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.