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Críticas

Elza Soares

: "O Fim do Mundo"

Ano: 2017

Selo: Mais Um Discos

Gênero: Eletrônica, Samba

Para quem gosta de: Nidia Minaj e Omulu

Ouça: Mulher no Fim do Mundo e Pra Fuder

8.0
8.0

Resenha: “O Fim do Mundo”, Elza Soares

Ano: 2017

Selo: Mais Um Discos

Gênero: Eletrônica, Samba

Para quem gosta de: Nidia Minaj e Omulu

Ouça: Mulher no Fim do Mundo e Pra Fuder

/ Por: Cleber Facchi 03/08/2017

Um dos principais problemas de qualquer trabalho centrado na remodelagem de uma grande obra não está no claro desejo em transformar o material original, mas em perceber coerência no subproduto desse registro. Interessante perceber nas canções de O Fim do Mundo (2017, Mais Um Discos), álbum que desconstrói o último registro de Elza Soares, A Mulher do Fim do Mundo (2015), um curioso senso de aproximação entre as faixas, homogeneidade mantida mesmo no esforço evidente do diversificado time de produtores em explorar de forma particular o recente clássico.

Com a voz de Soares como fio condutor da obra, o veterano Edward Larry Gordon, parceiro de Brian Eno e grande responsável pelo Laraaji, abre o trabalho em uma branda adaptação da vinheta Coração do Mar. Um breve respiro que antecede a explosão de batidas, melodias eletrônicas e ritmos – samba, pagode, trap, hip-hop, funk e techno –, que chega logo em seguida com o novo enquadramento de Omulu para Mulher do Fim do Mundo, música que aponta a direção seguida de forma intensa no restante da obra.

Claramente inspirado pela força percussiva de Guilherme Kastrup, produtor responsável pela versão original do disco, Omulu cria uma ponte para a sequência de composições marcadas pela assinatura de Gilles Peterson & Simbad, em Pra Fuder, Marginal Men & Badsista na dançante Firmeza e DJ Marfox no samba eletrônico de Maria de Vila Matilde. Pouco mais de 15 minutos em que a atmosfera urbana de Soares ganha novo significado, conduzindo o ouvinte para dentro de um território marcado pela completa força das batidas.

Na dobradinha formada por Nidia Minaj (Pra Fuder) e Kiko Dinucci (Luz Vermelha), instantes de claro experimento. Uma sequência que passa pelo minimalismo instável da produtora portuguesa e cresce nas sintetizadores e encaixes certeiros do músico paulistano, por vezes próximo da trilha sonora dos jogos de vídeo game dos anos 1980. Um verdadeiro trampolim para um ambiente de colagens etéreas e sobreposições eletrônicas que marcam a interpretação de O Canal, faixa assinada por IZem.

Mais conhecido pelo trabalho como integrante do grupo Do Amor e parceiro de Caetano Veloso na banda Cê, Ricardo Dias Gomes assume a responsabilidade de fechar o registro. Nas mãos do produtor e multi-instrumentista, a densa Solto, penúltima composição de A Mulher do Fim do Mundo, mas que aqui se transforma em uma obra talvez maior do que na versão original. Pouco mais de quatro minutos em que ruídos, colagens, melodias psicodélicas e distorções sujas parecem flutuar em torno da voz talhada de Soares.

Para a versão digital do álbum, O Fim do Mundo ainda chega acompanhado de duas ótimas composições. De um lado, o minimalismo e leve psicodelia de Luz Vermelha, parceria entre Psilosamples e Erika Alves. No outro oposto, o preciosismo do já citado Guilherme Kastrup, responsável por garantir novo formato à música originalmente lançada em parceria com Rodrigo Campos, Firmeza. Uma fuga dos temas eletrônicos que inauguram o presente trabalho e, ao mesmo tempo, uma passagem autoral para mesmo universo desbravado na versão original de A Mulher do Fim do Mundo.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.