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Críticas

Deafheaven

: "Ordinary Corrupt Human Love"

Ano: 2018

Selo: ANTI-

Gênero: Pós-Metal, Black Metal, Pós-Rock

Para quem gosta de: Lantlôs e Alcest

Ouça: Canary Yellow, Glint e You Without End

8.8
8.8

Resenha: “Ordinary Corrupt Human Love”, Deafheaven

Ano: 2018

Selo: ANTI-

Gênero: Pós-Metal, Black Metal, Pós-Rock

Para quem gosta de: Lantlôs e Alcest

Ouça: Canary Yellow, Glint e You Without End

/ Por: Cleber Facchi 19/07/2018

Instantes de profundo refinamento melódico seguidos de atos marcados pelo caos. Em Ordinary Corrupt Human Love (2018, ANTI-), quarto e mais recente álbum de inéditas do Deafheaven, a dualidade dos elementos — poéticos e, principalmente, instrumentais —, conduz a experiência do ouvinte durante toda a execução do trabalho. Amor e ódio, euforia e contemplação. Oposições conceituais que dialogam de forma propositada com a temática sentimental (e dolorosa) expressa logo no título da obra — em português, algo como “o ordinário e corrupto amor humano“.

Não por acaso, OCHL abre em meio a trechos de uma narração da atriz Nadia Kury, em You Without End, indicando a forte dramaticidade e lirismo que orienta a composição do álbum. Um ato lento e essencialmente climático, como se os músicos, George Clarke (voz e piano), Kerry McCoy (guitarras), Daniel Tracy (bateria), Shiv Mehra (guitarra) e Chris Johnson (baixo), aos poucos se encontrassem dentro de estúdio, apontando a direção seguida até o último instante da obra, durante os mais de dez minutos da catártica Worthless Animal.

De fato, o tempo é um componente fundamental para se deixar guiar pela rica narrativa poética e instrumental tecida pelo grupo californiano. Na contramão dos antecessores, New Bermuda (2015) e, principalmente, Sunbather (2013), cada composição de OCHL exige tempo (além do esperado) até se revelar por completo para o ouvinte. São camadas de fina manipulação dos arranjos e vozes, fazendo do álbum o registro mais extenso de toda a discografia do Deafheaven. Uma parcial desaceleração que apenas reforça a beleza da obra.

Exemplo disso está na completa versatilidade e incontáveis camadas de Canary Yellow, terceira faixa do disco. Em um intervalo de mais de 12 minutos de duração, o quinteto californiano vai do pop atmosférico dos anos 1970/1980 à explosão de guitarras e batidas rápidas de Tracy. São blocos de ruídos que servem de alicerce para o material apresentado nos momentos finais da música, quando coros de vozes evocam uma atmosfera quase ritualística — “Continuamente, engasgamos (o sangue do meu amante)” —, revelando ao público um dos atos de maior emoção do trabalho.

O mesmo esmero se reflete nos instantes de maior leveza do álbum. É o caso de Night People, colaboração com a cantora e compositora Chelsea Wolfe que não apenas assume a co-produção da faixa, como despe o Deafheaven de toda a veste caótica incorporada desde a abertura do disco. Um verdadeiro respiro entre a crueza de Glint e a atmosfera montada para a derradeira Worthless Animal, conceito que se repete também em Near, composição que parece dialogar com os três blocos instrumentais de Sunbather.

Do título inspirado na obra do novelista britânico Graham Greene aos versos melancólicos que se escondem por entre as brechas de vozes guturais, Ordinary Corrupt Human Love é o típico caso de um registro que parece maior (e mais complexo) a cada nova audição. Mesmo na força avassaladora de músicas como Honeycomb, canção de essência imediatista em que a minuciosa produção de Jack Shirley se revela por completo, sobrevive no lento desvendar das ideias e experiências lançadas pelos integrantes do Deafheavem o principal componente do álbum.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.