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Críticas

Otto

: "Ottomatopeia"

Ano: 2017

Selo: Pomm_elo

Gênero: Rock, Brega, MPB

Para quem gosta de: Céu e Nação Zumbi

Ouça: Bala, Caminho do Sol e Meu Dengo

8.0
8.0

Resenha: “Ottomatopeia”, Otto

Ano: 2017

Selo: Pomm_elo

Gênero: Rock, Brega, MPB

Para quem gosta de: Céu e Nação Zumbi

Ouça: Bala, Caminho do Sol e Meu Dengo

/ Por: Cleber Facchi 01/08/2017

O romantismo sempre fez parte da obra de Otto. Basta voltar os ouvidos para músicas como Dias de Janeiro (“Talvez não seja o certo / Amo você demais“) e Por Porque (“Se eu posso dividir meu corpo e meu amor“) para perceber o cuidado do artista pernambucano na composição dos versos. Uma sensibilidade que alcança melhor resultado nas canções do melancólico Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos, lançado em 2009, mas que encontra novo enquadramento na poesia de Ottomatopeia (2017, Pomm_elo).

Sexto registro de inéditas do ex-integrante do Mundo Livre S/A, o registro inaugurado pela melancolia de Bala, cresce como um dos trabalhos mais sensíveis de Otto. “As lágrimas caiam no meu rosto / Me trazia muita dor … Sabe quando passo aqui por perto / Lembro dos seus olhos chorando / Chuva que começa cedo molha / Me abusa“, canta o artista em um olhar atento sobre os desencontros, angústias e conflitos que movimentam o cotidiano de um antigo casal.

Em Atrás de Você, terceira canção do disco, o mesmo romantismo, porém, tratado de forma raivosa. “Eu cansei de viver / Cansei de correr atrás de você … Mas o amor me deixou / Não quer mais“, confessa enquanto uma soma de guitarras maquiadas pelo rock dos anos 1970 detalham um rico pano de fundo instrumental. Um som deliciosamente nostálgico, conceito que se repete na country Pode Falar, Cowboy!, música que escancara os sentimentos do eu lírico com naturalidade – “Onde é que eu posso chorar? / Quem tem amor pode dar“.

Brega, Ottomatopeia encontra na obra de veteranos como Odair José, Fagner e Erasmo Carlos um precioso componente criativo. Canções que atravessam quartos de motéis, passeiam solitárias pela estrada e encontram nas histórias de diferentes personagens uma comunicação imediata com o público. Faixas marcadas por um passado ainda recente (“Me traz de volta / Pra viajar na alegria“), ou mesmo versos que brincam com as inquietações de qualquer ser romântico (“É certo o amor imaginar? / Se plantou, tem que regar“).

Longe de parecer um lamento particular, como nas canções de Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos, em Ottomatopeia, Otto surge acompanhado por um time de artistas apaixonados. São nomes como Zé Renato em Carinhosa, Céu e Roberta Miranda na reinterpretação de Meu Dengo, Manoel Cordeiro e o filho Felipe na quente Teorema. Mesmo Andreas Kisser, integrante do Sepultura, se dobra de forma a atender ao conceito do disco na derradeira Orumilá, música que cresce em meio a ruídos, versos e batidas claramente ancoradas em elementos do manguebeat.

Com Pupillo (Nação Zumbi) como parceiro de produção, Otto não apenas se distancia do conceito experimental e psicodélico testado em The Moon 1111 (2012), como transparece segurança, presenteando o próprio público com uma coleção de letras marcantes. Uma obra de essência intimista, por vezes sufocante, amarga, como uma coletânea de pequenas desilusões amorosas, declarações apaixonadas e sussurros românticos capazes de aquecer mesmo o coração do mais frio dos indivíduos.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.