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Críticas

Grizzly Bear

: "Painted Ruins"

Ano: 2017

Selo: RCA

Gênero: Rock Alternativo, Art Rock

Para quem gosta de: Fleet Foxes e Animal Collective

Ouça: Three Rings e Mourning Sound

7.6
7.6

Resenha: “Painted Ruins”, Grizzly Bear

Ano: 2017

Selo: RCA

Gênero: Rock Alternativo, Art Rock

Para quem gosta de: Fleet Foxes e Animal Collective

Ouça: Three Rings e Mourning Sound

/ Por: Cleber Facchi 22/08/2017

Testar os próprios limites e se reinventar a cada novo álbum. Em mais de uma década de carreira, esse foi o propósito de cada integrante do Grizzly Bear dentro de estúdio. Um curioso exercício que tem início nas composições do inaugural Horn of Plenty (2004), passa pela maturidade em Yellow House (2006), mas que alcança melhor resultado nos experimentos aplicados em Veckatimest (2009) e Shields (2012), perfeita representação do som autoral e fina identidade poética que marca o trabalho do quarteto nova-iorquino – Ed Droste, Daniel Rossen, Chris Taylor e Christopher Bear.

Primeiro registro de inéditas da banda em uma gravadora de grande porte, a gigante RCA, Painted Ruins (2017) mostra a capacidade do grupo norte-americano em dialogar de forma descomplicada com uma parcela ainda maior do público, porém, preservando de forma sutil a própria essência musical. Melodias psicodélicas, vozes em coro e temas eletrônicos que se espalham de forma sempre delicada, sensível, como se o quarteto despisse os dois últimos trabalhos de toda a base ruidosa, densa e detalhista das canções, flertando com o pop de forma particular.

Evidente representação desse novo posicionamento musical da banda sobrevive logo no primeiro bloco de composições do trabalho. Poucas vezes antes o Grizzly Bear pareceu tão acessível quanto na sequência formada por Mourning Sound, Four Cypresses, Three Rings e Losing All Sense. Mesmo a climática faixa de abertura do disco, Wasted Acress, encanta pelo profundo refinamento dos arranjos e vozes, como um convite a se perder pelo universo de melodias doces que acompanham o ouvinte durante toda a execução da obra.

É justamente nesse breve conjunto de faixas que a busca do quarteto por novas sonoridades se reflete com maior naturalidade. Do diálogo sutil com o R&B em Wasted Acres, passando pela ambientação eletrônica em Three Rings, música que muito se assemelha ao trabalho do Radiohead no álbum In Rainbows (2007), cada fragmento do presente registro evidencia o esforço do quarteto em romper com o material apresentado no antecessor Shields, abraçando um som cada vez mais pop, por vezes previsível, talvez óbvio. Arranjos empoeirados da década de 1980 que se encontram com a mesma leveza instrumental e poética em Two Weeks e demais “hits” do grupo nova-iorquino.

Um bom exemplo disso está no romantismo torto de Systole, um soft-rock etéreo que seduz pelo forte lirismo e honestidade retratada nos versos. Em Neighbors, música que mais se assemelha ao trabalho produzido pela banda em Veckatimest, versos que discutem a relação conflituosa e o lento distanciamento entre dois personagens, tema central em grande parte das canções em Painted Ruins. Uma forte amarra poética que garante homogeneidade ao registro, porém, acaba se perdendo em meio a pequenas repetições, como se o disco desse voltas em torno de um mesmo ambiente criativo.

Embora menor quando próximo de outros registros da banda, Painted Ruins está longe de parecer um tropeço dentro da curta discografia do Grizzly Bear. Pelo contrário, boas composições estão espalhadas durante toda a execução da obra. Produzido em um intervalo de quase dois anos, o álbum carrega nas guitarras, batidas e vozes o mesmo preciosismo dos últimos projetos assinados pelo grupo. O problema talvez esteja na previsibilidade das canções, como se fosse possível antecipar uma série de movimentos, versos e melodias testadas pelo quarteto, sufocando temporariamente a surpresa e profunda transformação que sempre orientou o trabalho do grupo.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.