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Críticas

Mahmundi

: "Para Dias Ruins"

Ano: 2018

Selo: Universal Music

Gênero: Pop, R&B, Soul

Para quem gosta de: Silva, Jaloo e Letrux

Ouça: Tempo Pra Amar, Outono e Imagem

7.7
7.7

Resenha: “Para Dias Ruins”, Mahmundi

Ano: 2018

Selo: Universal Music

Gênero: Pop, R&B, Soul

Para quem gosta de: Silva, Jaloo e Letrux

Ouça: Tempo Pra Amar, Outono e Imagem

/ Por: Cleber Facchi 15/08/2018

É impressionante a capacidade de Marcela Vale em traduzir as emoções humanas, mesmo as mais complexas, em forma de música pop. Sem necessariamente perder a própria identidade, dialogando com sentimentos e experiências tão particulares, como cenas e acontecimentos de um Rio de Janeiro que cresce por entre os versos, cada composição assinada pela cantora e compositora carioca se adapta aos sentimentos e conflitos pessoais de qualquer indivíduo. Um contínuo desvendar das relações humanas que assume novo direcionamento no delicado Para Dias Ruins (2018, Universal Music).

Segundo e mais recente trabalho de inéditas como Mahmundi, o sucessor do excelente álbum homônimo de 2016 confirma o interesse da cantora em transitar por entre gêneros, porém, mantendo firme a consistência sentimental que embala os versos. Composições que vão da descoberta de um novo amor à melancolia fina que sutilmente corrompe qualquer relacionamento, cuidado que ecoa com naturalidade até a derradeira Eu Quero Ser O Mar (“Lá aonde surge a onda pra recomeçar / Na profusão dos sentidos da vida da gente / Da vida do tempo da gente / Mas eu tão aflito / Não consigo / Eu quero ser o mar“).

Menos eufórico em relação ao material entregue há dois anos, como uma fuga do rock nostálgico expresso na ensolarada Eterno VerãoPara Dias Ruins resume na inaugural Alegria parte da estrutura que acaba servindo de base para o restante da obra. Enquanto os versos se espalham sem pressa (“Alegria, não se prende / Porque vou te ver amanhã / Coisa mais bonita não se sente / Acordar ao teu lado“), sintetizadores, batidas e guitarras brandas encolhem e crescem a todo instante, flutuando por entre gêneros, como o reggae, o pop eletrônico dos anos 1980 e, principalmente, o novo R&B, conceito que vem sendo aprimorado pela cantora desde os primeiros registros em estúdio.

Interessante perceber nos momentos em que mais se distancia dessa lógica econômica, talvez contida em excesso, o ponto de maior acerto e beleza do trabalho. É o caso do R&B eletrônico que invade a já conhecida Imagem (“Esse é o tempo que quero com você / Me envolver, me imaginar“), o reggae-pop-colorido de Qual é a Sua?, e o som minucioso de Felicidade, música originalmente gravada no primeiro EP da cantora, Efeito das Cores (2012), mas que aqui passa por um novo tratamento, lembrando as canções de Jamie XX no ótimo In Colour (2015).

Nada que se compare ao trabalho da cantora em Tempo Pra Amar. Co-escrita em parceria com Carlinhos Rufino, a canção não apenas revela alguns dos versos mais pegajosos do disco (“A gente quer um tempo pra amar / A gente quer um tempo pro amor / E depois, no mundo lá fora / A gente retorna onde parou“), como cresce em uma sequência de vozes em coro, harmonias e diálogos com o soul que lembram o trabalho de veteranas como Sandra de Sá e outros nomes da nossa música. Um som cuidadoso, tocante e essencialmente romântico, direcionamento também explícito na agridoce Outono, outro acerto instrumental e poético do disco (“Lembra do que eu te falei no verão / Que eu nunca iria te deixar? / Podem as folhas cair no outono / No inverno eu vou te esquentar“).

Entregue à interferência de diferentes colaboradores, como Castello Branco, Roberto Barrucho, Lucas de Paiva, Quinho e o parceiro de longa data, o músico Lux Ferreira, Para Dias Ruins sutilmente flerta com a renovação, porém, preservando o habitual pop nostálgico que há tempos orienta o trabalho da cantora. Canções que mesmo conhecidas do público fiel da cantora — pelo menos um terço do álbum já havia sido apresentado pela artista em diferentes momentos —, se mantém capazes de seduzir o ouvinte, atraído pela poesia sensível que preenche cada lacuna do disco.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.