Resenha: “Paradise”, White Lung

/ Por: Cleber Facchi 10/05/2016

Artista: White Lung
Gênero: Punk Rock, Alternative, Indie Rock
Acesse: http://whitelung.ca/

 

Apresentado ao público em junho de 2014, Deep Fantasy é um verdadeiro exercício de transformação dentro da curta trajetória do White Lung. Ao mesmo tempo em que mantém firme o conceito agressivo explorado nos dois primeiros discos da banda canadense – It’s the Evil (2010) e Sorry (2012) –, está na utilização do canto melódico e versos sempre perturbadores da vocalista Mish Way o principal componente para a nova fase do grupo.

Em Paradise (2016, Domino), quarto e mais recente álbum de inéditas da banda de Vancouver, uma extensão aprimorada do material apresentado há dois anos. Um fino exercício do desespero e angústia que orienta de forma sempre confessional as canções assinadas por Way. Da abertura do disco, com Dead Weight, passando por músicas como Kiss Me When I Bleed e Demented, a clara sensação de que o White Lung segue em sua melhor fase.

Salve exceções, como a densa Below, Paradise despeja uma sequência de guitarras e batidas rápidas, raivosas. Vozes e ruídos que se chocam a cada curva do disco, mantendo firme a urgência do primeiro ao último acorde. A principal diferença em relação aos antecessores Sorry e Deep Fantasy está na utilização de bases e vozes essencialmente melódicas. Um som cada vez mais limpo, “pop”, como se o quarteto canadense fosse capaz de dialogar com uma nova parcela do público.

Composição que melhor sintetiza toda essa mudança, além, claro, de reforçar a presença do produtor Lars Stalfors (Cold War Kids, The Mars Volta), Kiss Me When I Bleed brinca com os detalhes durante toda a execução. Enquanto a voz de Way despeja uma solução de versos raivosos – “Love is a beast now / It rots my teeth now … He’ll suck out your eyes for me” –, guitarras e batidas crescem com polidez, ocupando a canção com pequenas doses de distorções plásticas.

O mesmo cuidado se repete em outras músicas ao longo da obra. Em Hungry, por exemplo, a letra parece pensada para grudar sem dificuldade, cirando uma ponte para a composição seguinte, a também “pegajosa” I Beg You. Em Narcoleptic, difícil não ser arrastado pela avalanche de guitarras e distorções controladas que recheiam a canção. A própria faixa de abertura do disco, Dead Weight, soa como um eficiente indicativo de todo o material produzido pela banda no restante da obra.

Maior do que a bem-sucedida sequência de faixas escolhidas para apresentar o trabalho –Kiss Me When I Bleed, Hungry e Below –, Paradise, cresce como um assertivo cruzamento de ideias e temas confessionais que naturalmente confirmam a maturidade do quarteto canadense. Da coleção de versos fortes que preenchem o álbum, passando pelo uso detalhado das guitarras em cada canção, nunca antes um disco do White Lung pareceu tão atrativo.

 

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Paradise (2016, Domino)

Nota: 8.6
Para quem gosta de: Perfect Pussy, Iceage e Screaming Females
Ouça: Kiss Me When I Bleed, Hungry e Below

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.