Resenha: “Paraíso”, Fernando Temporão

/ Por: Cleber Facchi 08/06/2016

Artista: Fernando Temporão
Gênero: Pop Rock, MPB, Indie Pop
Acesso: http://www.fernandotemporao.com.br/

Fotos: Rafael Silva

Fernando Temporão nem parece o mesmo artista que foi apresentado ao público com o álbum De dentro da gaveta da alma da gente (2013). Entre versos sóbrios, canções amargas e declarações de amor sempre delicadas, confessionais, o cantor e compositor carioca esbanja maturidade no segundo registro em carreira solo, Paraíso (2016, Independente). Um trabalho de temática acinzentada, apaixonado e ensolarado em momentos específicos, porém, íntimo de diferentes aspectos que marcam o presente cenário político/cultural brasileiro

Com Dança como faixa de abertura do disco, Temporão e o parceiro Kassin, produtor desde o álbum passado, indicam a direção assumida em cada uma das 11 faixas que recheiam o presente trabalho. São arranjos sempre precisos, marcados pelos detalhes, passagem para a interferência de convidados como o paulistano Marcelo Jeneci, influência confessa do músico carioca e responsável pela sanfona que passeia ao fundo da canção. Nos versos, fragmentos da identidade político de Temporão: “Tira a cabeça daí / Olha de frente pro perigo … Não, eu não vou saber dizer / Pra vocês não vou dizer / Sim“.

Convidado a inaugurar o disco, Jeneci é apenas um dos artistas que interferem diretamente no segundo álbum de Temporão. São nomes como Filipe Catto, responsável por parte dos versos na densa Exílios, o conterrâneo César Lacerda na trinca Sem fantasia, Afinal e Um milhão de novas palavras, além de Bruno Di Lullo (Dois), Alberto Continentino (No Ar) e Thiago Camelo (Dia de seguir, Tudo o que é tristeza). Nada que se compare ao assertivo encontro entre Temporão e a convidada Ava Rocha na composição que garante título ao disco.

Entre versos marcados pela subjetividade, Temporão e Rocha evocam o mesmo romantismo incorporado por Caetano Veloso em obras fundamentais como Qualquer Coisa (1975) e Bicho (1977). “Todo o teu território no teu rosto / Sinto o gosto, sinto amargar … Explosões sentimentais / Confissões abissais”, canta o músico carioca enquanto a guitarra passeia suavemente, pintando um delicado pano de fundo que ainda ecoa em outras composições espalhadas pela da obra.  

De fato, a essência da música popular brasileira dos anos 1970/1980 se faz evidente durante toda a construção de Paraíso. São composições imponentes que esbarram na obra de Gonzaguinha (Exílios), brincam com os ritmos no melhor estilo Gilberto Gil (Afinal) e, vez ou outra, tropeçam na mesma atmosfera “brega” dos grandes cantores românticos da época (Sem Fantasia). Uma delicada extensão do mesmo mosaico de ideias e referências que Kassin e Temporão montaram juntos no trabalho apresentado há três anos.

A principal diferença entre De dentro da gaveta da alma da gente e o presente disco se revela na explícita leveza que ocupa cada uma das 11 composições do trabalho – mesmo as mais urgentes. Sem pressa, a voz de Temporão se espalha preguiçosa, doce, ocupando com delicadeza as pequenas brechas instrumentais deixadas pela banda. Uma representação precisa – sonora e poética – do real significado da palavra “paraíso”.

 

Paraíso (2016, Independente)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Marcelo Jeneci, César Lacerda e Qinho
Ouça: Paraíso, Exílios e Dança

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.