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Críticas

Astronauta Marinho

: "Perspecta"

Ano: 2018

Selo: DaFne

Gênero: Experimental, Pós-Rock

Para quem gosta de: Mahmed e Kalouv

Ouça: Só, Cariri e Da Peur

8.0
8.0

Resenha: “Perspecta”, Astronauta Marinho

Ano: 2018

Selo: DaFne

Gênero: Experimental, Pós-Rock

Para quem gosta de: Mahmed e Kalouv

Ouça: Só, Cariri e Da Peur

/ Por: Cleber Facchi 08/02/2018

Ouvir o trabalho da cearense Astronauta Marinho é como se perder um universo de incertezas e constantes transformações. Parcialmente distante das melodias etéreas e arranjos ensolarados que deram vida ao primeiro álbum de estúdio da banda de Fortaleza, o mágico Menino Sereia (2014), Perspecta (2018, DaFne) mostra o continuo amadurecimento do quarteto formado por Guilherme Mendonça (bateria), Felipe Lima (guitarras), Caio Cartaxo (baixo) e Daniel Lima (teclados) dentro de estúdio. Uma obra densa e urbana, porém, tão sensível quanto o trabalho que a antecede.

Movido pela mesma força que marca o registro entregue há quatro anos, o novo álbum sustenta na sequência de oito faixas um exercício rápido e preciso. Ainda que seja possível viajar em meio a camadas de fina distorção, paisagens instrumentais e até mesmo vozes, do momento em que tem início, em NQSMV, até alcançar a derradeira Cariri, com mais de 10 minutos de duração, cada fragmento do disco parece conduzir o ouvinte de forma segura em direção à faixa seguinte, reflexo do cuidado e conceito ritmado que orienta a obra.

São guitarras entrelaçadas em uma base semi-jazzística, por vezes íntima de gigantes do pós-rock, como um diálogo particular do grupo com a obra de Slint, Tortoise e demais veteranos dos anos 1980/1990. Um labirinto de sensações que se espalha sem pressa. Um cuidado que se reflete não apenas na construção de faixas extensas, caso de Da Peur, composição que lembra o Radiohead em OK Computer (1997), como no minimalismo efêmero de Pontos Flutuantes e Cabeça de Peixe, duas das faixas mais curtas do disco.

Curioso, como tudo aquilo que a banda vem desenvolvendo desde a estreia com Menino Sereia, Perspecta lentamente se abre para a inserção de temas eletrônicos e novas possibilidades. Exemplo disso está no minimalismo hipnótico de , composição que soa como um encontro improvável entre o Gotan Project do álbum La Revancha del Tango (2001) e o Mahmed em Sobre a Vida em Comunidade (2015). Instantes em que batidas e arranjos minuciosos da canção servem de alicerce para a voz doce que corre por entre as brechas.

Movido pelo improvável, Perspecta revela ao público uma série de rupturas e fugas conceituais dentro de cada composição. São variações rítmicas que sutilmente distorcem a base inicial testada em cada composição. Ainda que essa proposta se faça evidente logo na inaugural NQSMV, está no mosaico de ideias da derradeira Cariri o ato de maior transformação da obra. Em um intervalo de quase 11 minutos, um mundo de histórias parecem detalhadas na criativa imposição de cada instrumento, como se décadas de referências fossem remontadas durante toda a execução da faixa.

Cercado de colaboradores e amigos próximos — como Vitor e Rodrigo Colares, Bruno Rafael e Rafaella Muller —, Perspecta é o primeiro álbum da banda a contar com a interferência direta de um produtor, o experiente Régis Damasceno, um dos integrantes do Cidadão Instigado. O resultado dessa profunda interferência criativa está na formação de uma obra essencialmente ampla. Composições que vão da música psicodélica ao regionalismo brasileiro de forma curiosa, como uma segura evolução de tudo aquilo que foi originalmente apresentado em Menino Sereia.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.