Image
Críticas

Persiano

: "Pessoas Reais Disponíveis para Conversar"

Ano: 2018

Selo: Tangerina

Gênero: Indie, Art Pop, Synthpop

Para quem gosta de: Cérebro Eletrônico, Nobat e Luli

Ouça: A rede virou contra mim e Pessoas Reais Disponíveis para Conversar

7.0
7.0

Resenha: “Pessoas Reais Disponíveis para Conversar”, Persiano

Ano: 2018

Selo: Tangerina

Gênero: Indie, Art Pop, Synthpop

Para quem gosta de: Cérebro Eletrônico, Nobat e Luli

Ouça: A rede virou contra mim e Pessoas Reais Disponíveis para Conversar

/ Por: Cleber Facchi 03/05/2018

Pessoas Reais Disponíveis para Conversar (2018, Tangerina) é um verdadeiro delírio transformado em música. Segundo e mais recente álbum de inéditas do cantor e compositor Fernando Persiano, o sucessor de Art La Vista (2014) mostra o esforço do artista mineiro em (re)contar histórias, explorar personagens e cenas do cotidiano de forma sempre particular, torta. Pouco menos de 30 minutos em que o ouvinte é convidado a se perder em um território de pequenas incertezas.

Influenciado de maneira confessa pela narrativa futurista da série Black Mirror, além, claro, da relação entre humanos e tecnologia, principalmente no que diz respeito ao uso das redes sociais, Persiano encara com ironia e bom humor uma série de conflitos mundanos. Da poesia existencialista de Lendo o Perfil Que Fizeram do Amanhã, música que lembra o canto declamado de Arnaldo Antunes, à composição robótica de O Negócio É Fazer, cada faixa do disco se abre para a lenta desconstrução de um tema/conceito específico.

Quanta mágoa / Sinto falta dos posts teus / Dos teus likes / De seguir seus caprichos / Pelo snap … Nossos grupos / Tão secretos / Sinto faltas dos lives teus / Dos teus áudios / De mandar flor pra você / Pelo whatssap“, canta em A rede virou contra mim, música em que discute o fim de um relacionamento e o peso da saudade dentro do mundo digital. Em Centro de crédito online, quinta faixa do disco, frases típicas do universo do telemarketing que se transformam em base para a poesia cômica da canção.

O destaque acaba ficando por conta da autointitulada música de abertura. “Eu vou correr / Pra te abraçar / Mil léguas / Pra te abraçar / Eu vou correr pra não perder o trem“, canta enquanto sintetizadores e inserções eletrônicas convidam o ouvinte a se perder em uma psicodelia futurística, mágica. Pouco mais de três minutos em que Persiano não apenas preserva a poesia conceitual que serve de base para o trabalho, como musicalmente dialoga com a obra de veteranos como Brian Eno e Kraftwerk.

Na cômica As Leis do Condomínio, sétima canção do álbum, uma fuga breve do mesmo universo temático que rege o disco. Trata-se de um ato cênico, com Persiano brincando com os diálogos, acusações e críticas levantadas por um grupo de condôminos. Um misto de canto e interpretação que lembra a poesia descritiva do Cérebro Eletrônico. Em Luli, outro distanciamento criativo do mesmo ambiente “tecnológico”. São retalhos instrumentais e poéticos, a la Os Mutantes, em que o músico mineiro se concentra em explorar uma mesma personagem.

Passagem para um mundo próprio do artista, Pessoas Reais Disponíveis para Conversar exige uma audição atenta e claro esforço do público até ser totalmente absorvido. Ao mesmo tempo em que cresce em relação ao antecessor Art La Vista, não há como negar que a repetição de temas e elementos específicos, como a frequente voz do Google Tradutor, acabam tornando a experiência do disco pouco estimulante. Um propositado desconforto, calculado, como se Persiano soubesse exatamente a melhor forma de seduzir e, ao mesmo tempo, provocar o ouvinte.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.