Image
Críticas

Jonny Greenwood

: "Phantom Thread"

Ano: 2018

Selo: Nonesuch

Gênero: Experimental, Instrumental

Para quem gosta de: Jon Brion e Micachu

Ouça: Phantom Thread III e I'll Follow Tomorrow

8.0
8.0

Resenha: “Phantom Thread”, Jonny Greenwood

Ano: 2018

Selo: Nonesuch

Gênero: Experimental, Instrumental

Para quem gosta de: Jon Brion e Micachu

Ouça: Phantom Thread III e I'll Follow Tomorrow

/ Por: Cleber Facchi 17/01/2018

Wes Anderson e Alexandre Desplat, Christopher Nolan e Hans Zimmer, Sam Mendes e Thomas Newman. A história recente do cinema está repleta de parcerias bem-sucedidas entre grandes cineastas e seus compositores “pessoais”. Um permanente processo de interferência criativa que se repete a cada novo registro autoral — seja em se tratando das imagens ou da sutileza dos arranjos. Colaborações preciosas e necessárias, poucas tão expressivas quanto o encontro entre o diretor norte-americano Paul Thomas Anderson e o músico inglês Jonny Greenwood.

Outrora parceiro do experiente Jon Brion, compositor responsável pelas excelentes trilhas sonoras de Boogie Nights – Prazer sem limites (1997) e Magnólia (1999), Anderson acabou encontrando na obra do também guitarrista do Radiohead um complemento necessário para a própria filmografia. Exemplo disso está na inserção cuidadosa dos arranjos em películas como Sangue Negro (2007) e O Mestre (2012), trabalhos em que a trilha minimalista de Greenwood funciona como alicerce para o jogo de imagens cuidadosamente projetadas pelo cineasta norte-americano.

Interessante perceber na construção de Phantom Thread — no Brasil, Trama Fantasma —, uma parcial fuga do habitual minimalismo que há tempos orienta os encontros musicais/visuais entre Greenwood e Anderson. Trata-se de uma trilha sonora robusta, propositadamente densa e extensa — são quase 60 minutos de duração dissolvidos em 18 atos distintos. Composições marcadas pela orquestração minuciosa de um time de instrumentistas, como se o músico inglês preenchesse toda e qualquer lacuna do trabalho de forma a sufocar o ouvinte.

Parte dessa forte carga emocional e fina dramaticidade busca se relacionar diretamente com a narrativa do filme. Escolhido para encerrar a carreira do britânico Daniel Day-Lewis — o ator já anunciou que este é o último papel que interpreta no cinema —, Trama Fantasma se passa na Inglaterra dos anos 1950, mergulhando no relacionamento tumultuado entre o renomado estilista Reynolds Woodcock (Day-Lewis) e sua musa, a jovem Alma (Vicky Krieps). Nesse cenário, a clara tentativa de Greenwood em replicar (musicalmente) a atmosfera da época.

São ambientações que parecem refletir o clima da Europa durante o pós-guerra, os luxos da corte e burguesia inglesa, além, claro, do drama em torno dos dois protagonistas da obra. Um trabalho grandioso, essencialmente melancólico, conceito explícito nos quatro diferentes atos orquestrados por Greeenwood para a faixa-título do disco. Fragmentos que vão do preciosismo dos arranjos à turbulência dos temas instrumentais, passagem evidente na emocional Sandalwood I e, principalmente, na base ascendente que se destaca em House of Woodcock.

Entre maquinações sensíveis, ambientações que emulam a atmosfera de antigos clubes noturnos, vide a jazzística I’ll Follow Tomorrow, além do uso irrestrito de elementos inusitados, como o dedilhado na doce That’s As May Be, Greenwood faz de Phantom Thread uma obra que ultrapassa os limites da tela. Composições que dialogam diretamente com a história e o universo explorado por Paul Thomas Anderson, porém, a todo instante contribuem para o fortalecimento de uma obra homogênea, musicalmente dona de um poderoso conjunto de regras próprias.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.