Resenha: Planeta Terra Festival 2011

/ Por: Cleber Facchi 08/11/2011

Por: Cleber Facchi

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Poucos festivais de música no Brasil conseguirão equiparar tamanha qualidade e o vasto conjunto de artistas que delimitaram a edição 2010 do Planeta Terra Festival. Ao mesmo tempo em que a organização do evento conseguiu unir tanto veteranos do rock alternativo – Pavement e The Smashing Pumpkins – com toda uma safra de grandes nomes da música contemporânea – Phoenix, Passion Pit, Hot Chip e Yeasayer -, era visível a qualidade de som proporcionada e toda a estrutura que comportava o festival. Entretanto, o mesmo não pode ser dito da última e ainda fresca edição do evento.

Do cheiro de esgoto que encobria grande parte do Playcenter (local onde foi realizado o evento) ao constante problema de som nos dois palcos, o que se viu foi uma sucessão de erros e alguns parcos, para não dizer raros, acertos. Algo simplesmente intolerável em se tratando de um festival de tão vasta experiência e que através do público fiel conseguiu esgotar todos seus ingressos em apenas algumas horas.

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É obviamente inegável o quanto a total área de parque foi melhor ocupada na atual edição, sendo habilmente fragmentada entre pequenas atrações custeadas pelos patrocinadores do evento. Dos passeios gratuitos no Sky Coaster, ao sorteio de brindes, passando pela ampla ocupação do espaço lounge, tudo foi arquitetado de forma perspicaz, algo que pode ser ainda melhor explorado em futuras edições do evento. Até a limpeza e o recolhimento do lixo durante todo o festival foi administrada de forma convincente, um oposto da edição passada, que teve o chão do palco principal transformado em uma maré de copos plásticos e restos de papéis logo no cair da noite.

A boa qualidade estrutural, entretanto, não justifica a péssima escalação do festival e muito menos os erros técnicos que prejudicaram o som de diversos shows. Durante a apresentação do Toro Y Moi, por exemplo, Chazwick Bundick e seus parceiros tiveram de interromper a música de abertura por exigência dos fãs, que se depararam com uma performance repleta de prejuízos por conta do baixo volume do show. Isso acabou se repetindo em praticamente todas as atrações do Indie Stage. Em diversas apresentações como Gang Gang Dance e Groove Armada era mais fácil ouvir a conversa do público do que o som do palco.

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O mesmo acabou se evidenciando ao longo de toda a noite no palco principal. Por mais surpreendente que fosse a apresentação dos canadenses do Broken Social Scene – provavelmente um dos melhores shows do evento – o nível do áudio estava excessivamente baixo. Durante a execução da faixa All To All, que já conta com uma sonoridade mais branda e livre de excessos, o som pareceu baixar ainda mais, sendo impossível ter um bom aproveitamento do show.

A vergonha maior, entretanto, foi durante a apresentação do grupo nova-iorquino Interpol. Até metade do espetáculo os vocais de Paul Banks foram mascarados por efeitos – não presentes em outras apresentações ao vivo do grupo -, isso sem contar com a guitarra de Daniel Kessler, que além de baixíssima em alguns momentos, pareceu simplesmente desaparecer durante a execução de faixas como Barricade. Por falar em Interpol, fica a dúvida em relação à presença do White Lies no mesmo evento. Como se não bastasse a pior apresentação de todo o festival, o grupo britânico partilha de uma sonoridade essencialmente similar à do grupo norte-americano, ocupando um espaço que poderia ser melhor aproveitado por um artista vindo de outra vertente instrumental.

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Se as apresentações de artistas estrangeiros foram em sua maioria prejudicadas pela baixa qualidade do som, o mesmo não pode ser dito do desempenho dos cinco artistas nacionais que figuraram pelos palcos do festival. Das alfaias do Nação Zumbi (que ecoaram mesmo distantes do palco principal) ao som caloroso do Garotas Suecas ou as batidas dançantes do The Name, todos os grupos brasileiros administraram com destreza suas curtas apresentações. Entretanto, é do rapper Criolo o título de grande apresentação do festival. Acompanhado de uma banda ensaiadíssima, o paulistano destilou uma sequência de hits que cativaram o público mesmo sob o sol forte que o acompanhou durante toda sua apresentação. A presença do rapper serviu para confirmar uma grande lacuna que há tempos toma conta do festival: a presença de artistas voltados ao hip-hop, algo que pode (e deve) ser melhor aproveitado nas próximas edições do evento.

Donos da noite, os nova-iorquinos do Strokes fizeram valer a espera de uma maioria do público que estava ali apenas para vê-los. Apresentando uma verdadeira coleção de clássicos, o grupo conseguiu durante mais de uma hora manter ativo um público que em anteriores apresentações parecia simplesmente não existir. Entre composições que passearam por toda a discografia do grupo – inclusive pelo recente Angles -, um entusiasmado Nick Valensi (em visual blasé) distribuiu uma sequência de possantes riffs, abrindo terreno para que Julian Casablancas possibilitasse um desempenho épico e enérgico em companhia do fervoroso público. Até sobrou tempo para algumas brincadeirinhas com o baterista Fabrizio Moretti.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.