Resenha: “Please Be Mine”, Molly Burch

/ Por: Cleber Facchi 08/03/2017

Artista: Molly Burch
Gênero: Indie, Folk, Alternativo
Acesse: http://www.mollyburchmusic.com/

 

Em meados do último ano, a cantora e compositora californiana Molly Burch presenteou o público com duas canções inéditas. De um lado, o romantismo de Downhearted, música que parece saída de algum clássico da década de 1950/1960. No outro oposto, o tempero litorâneo de Try, faixa ancorada em diversas referências do passado, mas que dialoga de forma natural com toda uma sequência de novos representantes da música norte-americana.

Essa mesma dualidade acaba decidindo o rumo das canções apresentadas em Please Be Mine (2017, Captured Tracks), primeiro álbum de estúdio de estúdio produzido por Burch. Acúmulo de ideias e referências que passeia por diferentes décadas e tendências, o registro de apenas dez faixas faz de conflitos da própria cantora um instrumento de comunicação com o público. Confissões amorosas, medos e tormentos que se espalham em meio a guitarras e vozes enevoadas.

Próxima de Angel Olsen, Sharon Van Etten e outras românticas do rock estadunidense, Burch faz de cada composição ao longo do disco um doloroso fragmento intimista. Da melancólica faixa-título, passando por músicas como Please Be Mine, Fool e I Love You Still, cada canção de Please Be Mine se espalha em meio a versos essencialmente românticos, fazendo do álbum uma espécie de diário musicado. Canções que se apoiam em diferentes fases da própria artista.

A principal diferença em relação diferença em relação a outros nomes de destaque da música alternativa está na forma como Burch conceitualmente amarra grande parte das canções. Entre guitarras ensolaradas, órgãos climáticos e batidas pontuais, cada faixa do registro parece apontar para algum ponto específico da década de 1960. O mesmo pop radiofônico (e nostálgico) explorado pelo She & Him em toda a sequência de obras produzidas pela dupla na última década.

Arranjos acústicos e pinceladas de drama em Loneliest Heart, melodias essencialmente aprazíveis em Torn To Pieces, guitarras psicodélicas e o clima romântico de Not Today. Sem necessariamente perder o controle da própria obra, Burch faz de cada composição ao longo do disco um ato isolado, independente. Instantes em que o trabalho produzido pela artista californiana esbarra com naturalidade na obra de veteranos como The Beach Boys, Dolly Parton e Carpenters.

Marcado pela relação com o passado, Please Be Mine mostra a tentativa de Molly Burch em produzir um registro musicalmente diverso, autoral, mesmo íntimo de clássicos do pop/rock. São mais de cinco décadas de referências que se revelam como um pano de fundo conceitual para o trabalho. Melodias nostálgicas, guitarras e temas ensolarados que ocupam cada brecha do registro, resultando em um verdadeiro alicerce para a poesia romântica da artista.

 

Please Be Mine (2017, Captured Tracks)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Angel Olsen, Sharon Van Etten e She & Him
Ouça: Try, Wrong For You e Loneliest Heart

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.