Resenha: “Preoccupations”, Preoccupations

/ Por: Cleber Facchi 19/09/2016

Artista: Preoccupations
Gênero: Alternativa, Pós-Punk, Experimental
Acesse: http://preoccupationsband.com/

 

Nós somos uma banda que quer fazer música e tocar para os nossos fãs. Não estamos aqui para causar dor ou lembrar as pessoas de atrocidades do passado”. Com um anúncio publicado no Facebook, Matt Flegel (baixo, vocal), Mike Wallace (bateria), Scott Munro (guitarra, sintetizadores) e Daniel Christiansen (guitarra) deram início a uma nova fase na carreira da banda, substituindo o polêmico título do projeto, Viet Cong, e apresentando ao público um novo nome: Preoccupations.

Mais do que uma simples alteração no nome, um explícito exercício de transformação – o antigo título, considerado pejorativo por membros da comunidade vietnamita, fez com que a banda tivesse de cancelar uma série de shows pelos Estados Unidos. Da capa do novo disco – claramente inspirada em clássico da Factory Records –, passando pelo uso de temas experimentais e ambientações íntimas do som produzido no final da década de 1970, faixa após faixa, o quarteto de Calgary continua a provar de novas sonoridades.

Um bom exemplo disso está em Memory. Quarta faixa do disco, a composição de quase 12 minutos mostra a força do grupo em costurar diferentes atos instrumentais dentro de uma mesma canção. Uma lenta sobreposição de guitarras, batidas e vozes que vão do uso de melodias acessíveis ao mais complexo experimento, criando um espaço para a rápida interferência do convidado Dan Boeckner, uma das mentes por trás do Wolf Parade e também da extinta dupla de synthpop/pós-punk Handsome Furs.

O mesmo cuidado acaba se repetindo em outros instantes da obra. Faixa de abertura do disco, Anxiety, por exemplo, cresce nas sombras, detalhando um pequeno exercício atmosférico que logo se abre para a interferência dos vocais e sintetizadores. Mais do que uma lembrança nostálgica do mesmo som produzido por veteranos como Public Image Ltd. e Joy Division, uma clara extensão do som produzido há poucos meses dentro do primeiro álbum de inéditas da banda.

Parcialmente livre da urgência que parecia tomar conta de faixas como Silhouettes, Continental Shelf e parte expressiva do disco passado, em Preoccupations, são os detalhes que acabam orientando cada composição apresentada pelo grupo. Os sintetizadores em diálogo com as batidas de Monotony, a leveza das vozes e instrumentos dentro da curtinha Sense, a parcial limpidez dos arranjos e vozes que finalizam o disco na dobradinha Stimulation e Fever.

Tão intenso e complexo quanto qualquer outro exemplar recente do revival pós-punk – como Silence Yourself (2013) das garotas do Savages e Plowing into the Field of Love (2014) do grupo dinamarquês Iceage –, o registro de apenas nove composições é um trabalho marcado pela completa segurança e completo domínio instrumental de cada integrante. Pouco menos de 40 minutos em que o quarteto canadense sabe onde quer chegar.

 

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Preoccupations (2016, Flemish Eye / Jagjaguwar)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Iceage, Parquet Courts e Savages
Ouça: Anxiety, Memory e Degraded

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.