Resenha: “Presença”, SLVDR

/ Por: Cleber Facchi 09/08/2016

Artista: SLVDR
Gênero: Pós-Rock, Math-Rock, Experimental
Acesse: https://slvdrmsc.bandcamp.com/

 

A colorida ilustração que estampa a capa de Presença (2016, Independente) — trabalho assinado por Lucas Santos — parece dizer muito sobre o som produzido pelo grupo carioca SLVDR. Produzido em um intervalo de dois anos em diversos estúdios do Rio de Janeiro, o álbum mostra o esforço do trio formado por Bruno Flores, Hugo Noguchi e Gabriel Barbosa em explorar diferentes décadas, ritmos e possibilidades de forma a produzir um registro musicalmente amplo.

Com Não há mais esperança escolhida como faixa de abertura do disco, o trio, em parceria com o músico Gabriel Ventura, vocalista e guitarrista da banda carioca Ventre, cria uma espécie de resumo do som pensado para o registro. São pouco menos de seis minutos em que guitarras e batidas apontam para todas as direções, criando pequenos atos de euforia e instantes de recolhimento. Um estímulo claro para o som produzido logo em sequência com Dark Mansa, música que parece ter saído do final dos anos 1990.

Terceira faixa do álbum, a curtinha Bouken vai da serenidade ao caos em poucos instantes. Difícil não lembrar do trabalho de artistas como Fugazi e Polvo enquanto as guitarras, bateria e baixo da composição estabelecem um diálogo preciso, por vezes raivoso, revelando ao público o uso de pequenas curvas rítmicas. Quase um aquecimento para os versos urbanos que surgem em sequência com Um brevíssimo conto sobre a humanidade dos dias, um dos raros instantes em que a voz assume uma posição de destaque no disco.

Segunda canção em parceria com Ventura, Forum talvez seja a faixa mais versátil de toda a obra. São pouco mais de cinco minutos em que o grupo joga com as possibilidades, mergulhando em uma atmosfera de sons abstratos, temas jazzísticos e elementos que dialogam de forma particular com a música eletrônica. Fragmentos que parecem abraçar diferentes temáticas e épocas, como se o trabalho de grupos como Slint, The Dismemberment Plan e Tortoise fosse remontado de forma autoral.

Na dobradinha #8 e O Doutor está vivo (No velho oeste, mas está vivo), a colisão de dois universos completamente distintos. Enquanto a primeira canção mergulha no mesmo som “eletrônico” da faixa que a antecede, na música seguinte, são as guitarras e o peso da distorção que indica o caminho assumido pela banda. Instantes concentrados de raiva que acabam servindo de ponte para o breve respiro que nasce na vinheta Oni to nari, de apenas sete segundos.

Para o encerramento do trabalho, Il Momento di vazzare, um jogo de arranjos melancólicos e íntimos do jazz. Guitarras que se espalham sem pressa, climáticas, como se toda a massa de ruídos que inaugura o disco fosse dissolvida lentamente. Longe de parecer um ponto final, a canção se revela como um claro ponto de partida, ruídos e experimentos controlados que indicam a completa ausência de certeza que orienta o trabalho do trio carioca.

 

Presença (2016, Independente)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Chinese Cookie Poets, Ventre e Kalouv
Ouça: Forum, Il Momento di vazzare e Não há mais esperança

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.