Resenha: “Prisoner”, Ryan Adams

/ Por: Cleber Facchi 21/02/2017

Artista: Ryan Adams
Gênero: Rock, Alternativo, Folk
Acesse: http://paxamrecords.com/

 

Guitarras e batidas exploradas de forma crescente e dramática. Ao fundo da canção, o uso climático dos teclados, instrumento trabalhado como um complemento aos versos românticos que explodem de forma sempre exagerada, brega: “Você ainda me ama, bebê?”. Bastam os primeiros minutos de Do You Still Love Me? para que o ouvinte seja rapidamente transportado para dentro do novo (e melancólico) álbum de Ryan Adams: Prisoner (2017, PAX AM / Blue Note).

Primeiro registro de inéditas do cantor e compositor norte-americano desde o homônimo álbum lançado em 2014 e também sucessor da controversa adaptação do disco 1989 (2015), de Taylor Swift, Prisoner é, como grande parte dos trabalhos de Adams, um doloroso registro de separação. Trata-se de uma coleção de memórias ainda recentes e versos sorumbáticos que refletem todo o processo de distanciamento do artista e sua ex-esposa, a cantora e atriz Mandy Moore.

A principal diferença em relação a outros trabalhos produzidos pelo músico, caso do melancólico Gold (2001) e Love Is Hell (2004), está na forma como Adams abraça de vez o rock dos anos 1970/1980 como um estímulo para a construção de toda a atmosfera do disco. Difícil não lembrar de Bruce Springsteen, Dire Straits e Fleetwood Mac à medida que o álbum avança, efeito do evidente diálogo do músico com toda uma geração de representantes do famigerado “Dad Rock”.

O som ecoado das batidas e vozes, arranjos eletroacústicos e versos que se espalham em meio a delírios românticos, angústias e pequenas confissões. “Eu poderia esperar mil anos, meu amor / Eu esperaria por você / Eu poderia ficar em um só lugar, meu amor / E nunca me mover”, canta em Doomsday, uma dolorosa síntese do som amargo que preenche o disco. Instantes em que os sentimentos mais profundos de Adams se transformam em um retrato das desilusões de qualquer ouvinte.

Perdido em um oceano de temas melancólicos, Adams vai da ambientação brega de Tightrope, com seu saxofone provocante, ao country rock da amarga To Be Without You. Uma coleção de versos intimistas e acessíveis, como se a breve passagem pelo universo pop de Taylor Swift servisse de estímulo para uma nova fase dentro da carreira do cantor. O mesmo som intenso e nostálgico originalmente detalhada no álbum Orion, de 2010, porém, enquadrado de forma comercial.

Repleto de boas composições – como Doomsday, Breakdown, To Be Without You e Do You Still Love Me? –, Prisoner delicadamente transporta o ouvinte para um território consumido em essência pela dor, como um novo e amargo capítulo na discografia do músico. Não se trata de mais um clássico dentro da extensa produção do artista, mas um fino exemplar da capacidade de Adams em transformar a própria melancolia no principal componente criativo do trabalho.

 

Prisoner (2017, PAX AM / Blue Note)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Jason Isbell, The War on Drugs e Dire Straits
Ouça: Doomsday, Do You Still Love Me? e To Be Without You

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.