Resenha: “Rennen”, SOHN

/ Por: Cleber Facchi 19/01/2017

Artista: SOHN
Gênero: Eletrônica, R&B, Alternativo
Acesse: http://sohnmusic.com/

 

A busca por um som cada vez mais pop parece ter impactado diretamente no trabalho produzido por Christopher Taylor. Três anos após o lançamento do bem-recebido Tremors (2014), álbum de estreia do SOHN, o cantor e produtor britânico está de volta com um novo registro de inéditas. Em Rennen (2017, 4AD), cada uma das dez músicas assinadas pelo artista se projeta de forma segura, detalhando angústias e confissões amargas do primeiro ao último instante da obra.

Anunciado ao público durante o lançamento da inédita Signal, ainda em 2016, Rennen segue exatamente de onde Taylor parou durante a produção do primeiro álbum de estúdio. São batidas sufocantes, sempre densas, ponto de partida para a construção de versos marcados por desilusões amorosas, confissões e medos. Um registro tocante, doloroso, porém, acessível e envolvente, efeito da sequência de vozes delicadamente tecidas pelo artista inglês durante toda a construção do disco.

Eu posso sentir isso vindo, nós nunca poderemos voltar É um incêndio no vale e está chegando para nos queimar / Como um cometa batendo no planeta / E nós somos dinossauros vivendo em negação”, canta em Conrad, um resumo da poesia romântica (e melancólica) que orienta o trabalho. A diferença em relação ao som produzido em Tremors está na forma como as vozes orientam o ritmo e batidas do trabalho, fazendo de cada verso um instrumento complementar.

Faixa de abertura do disco, Hard Liquor partilha do mesmo conceito. Perceba como a voz delicadamente se converte na base da canção, cercando o ouvinte durante toda a execução dos versos. São gemidos, samples e vozes complementares, sonoridade que acaba esbarrando em toda a sequência de obras produzidas pelo Kanye West nos últimos anos. Um poderoso estímulo para a dezena de músicas que SOHN detalha ao longo do presente registro.

De fato, a relação com o Hip-Hop parece nítida durante toda a produção do trabalho. Quinta faixa do disco, Primary nasce em meio a batidas eletrônicas e vozes marcadas pela forte interferência do auto-tune. Um canto melancólico, intimista, por vezes similar ao som produzido por Frank Ocean no ainda recente Blonde (2016). Em Proof, oitava música do álbum, versos que se transformam em rimas, como se Taylor brincasse com as possibilidades a cada nova curva do disco.

De essência comercial, Rennen aproxima com naturalidade Taylor do mesmo universo de artistas como Banks, Låpsley e outros nomes de destaque do R&B “alternativo”. Não se trata de um trabalho inovador, pelo contrário, faixa após faixa, o produtor britânico brinca com a reciclagem de conceitos e temas originalmente explorados por outros artistas. Fragmentos vindos de diferentes cenas e tendências, porém, costurados de forma coesa pelo artista.

 

Rennen (2017, 4AD)

Nota: 6.5
Para quem gosta de: Banks, James Blake e Låpsley
Ouça: Hard Liquor, Primary e Conrad

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.