“Me desculpe, a velha Taylor não pode atender agora. Por que? Oh! Porque ela está morta!“. Ainda que banhada em comicidade, a frase destacada em Look What You Made Me Do, sexta faixa de Reputation (2017, Big Machine), funciona como um excelente resumo da constante transformação que acompanha o trabalho de Taylor Swift desde o começo da carreira. Do country-pop que abastece o debute homônimo, de 2006, e Fearless (2008), para os temas eletrônicos e composições nostálgicas de Red (2012) e 1989 (2014), cada registro produzido pela cantora e compositora norte-americana parece transportar o ouvinte para um novo ambiente criativo.
Lançado sob grande expectativa, curioso perceber em Reputation, sexto álbum de inéditas, uma obra que pouco evolui ou acrescenta à carreira de Swift. Da voz carregada de efeitos, aos versos que mergulham em temas pessoais, passando pela ambientação por vezes empoeirada dos sintetizadores, difícil não pensar no trabalho como um produto intermediário, um meio termo entre a maturação alcançada em Red e o ápice criativo de 1989. Um trabalho naturalmente cômodo, como se Swift soubesse exatamente onde investir para atingir o público.
Exemplo disso está na pegajosa I Did Something Bad. Enquanto a letra martela na cabeça do ouvinte de forma cíclica — “Eles dizem que eu fiz algo ruim (ruim) / Mas por que isso é tão bom?” —, reforçando a temática da autoimagem e da percepção dos indivíduos discutida ao longo da obra, batidas, samples e loops entregues ao trap convidam o ouvinte a dançar. É quase possível visualizar a canção em meio a uma explosão de fogos, dançarinos e até mesmo um palco giratório, reforçando a grandiosidade das apresentações ao vivo que marcaram a última turnê da cantora.
Do momento em que tem início em …Ready For It?, passando por End Game, encontro musical com Future e o amigo Ed Sheeran, Look What You Made Me Do, o flerte com o R&B em So It Goes ou mesmo Gorgeus, música que soa como uma composição abortada de 1989, difícil passear pelas canções de Reputation e não ser fisgado em algum momento. De fato, poucas cantoras atuais parecem trabalhar os versos e batidas em uma estrutura que captura o ouvinte logo em uma primeira audição. Trata-se de um álbum direto, rápido, como se Swift despisse as canções de toda e qualquer complexidade, evitando possíveis experimentos.
É nesse ponto que Reputation provavelmente deve dividir o público que acompanha o trabalho da cantora. Quem espera por um álbum acessível e radiofônico, dificilmente terá do que reclamar. Sobram hits e clipes a serem trabalhados pela cantora pelos próximos dois ou três anos. Entretanto, quem busca por algo maior ou uma possível perversão do pop tradicional, talvez tenha de regressar ao universo desbravado em outros exemplares recentes que provam desse conceito. Exercício do gênero não faltam, vide Lorde com o excelente Melodrama (2017), obra que também conta com a assinatura de Jack Antonoff, parceiro de Swift durante grande parte do disco.
Por falar em Antonoff, é justamente ao lado dele que Swift cresce musicalmente, principalmente nos instantes finais do disco. Estão lá os habituais sintetizadores e melodias oitentistas que o produtor norte-americano vem testando com nomes como Grimes, Banks e, mais recentemente, com St. Vincent. Composições como Getaway Car, música que poderia facilmente ter sido gravada por Carly Rae Jepsen em Emotion (2015), a provocativa Dress e Call It What You Want. Fragmentos em que a cantora se distancia do culto à autoimagem – e pequenas provocações a inimigos como Kanye West e Katy Perry –, para reforçar o peso dos próprios sentimentos. Uma leveza rara que alcança melhor resultado na semi-acústica New Year’s Day, faixa de encerramento do álbum.
Com mais de 1 milhão de cópias vendidas antes mesmo de completar a primeira semana de lançamento, encarar Reputation como um fracasso ou mínimo tropeço na carreira da cantora seria o mesmo que abraçar a ignorância e tapar os ouvidos para a realidade. Todavia, em um universo de obras recentes que desafiaram o pop à sua maneira, vide o debate racial que cresce em Lemonade (2016), ou mesmo o profundo retrato da juventude triste no já citado Melodrama, passear pelo repertório do presente álbum de Taylor Swift é como esbarrar em um trabalho menor, pegajoso e divertido por um breve instante, porém, vazio de significado.
Reputation é mais do mesmo. Taylor é tão marketeira que soube fazer algo que despertasse a curiosidade do público. Mas os assuntos são sempre os mesmos: intrigas com outros famosos, ex namorados, se fazer de coitada… Zzzzzzz Pura zona de conforto. Não entendo o hype dela. A garota branca e rica que sofre muito nesse mundo injusto enquanto toma seu prosseco. Acho que essa nota 6 ainda foi muito. E olha que não sou hater dela, mas chega uma hora que cansa.
Os lançamentos do POP deveriam seguir uma lógica diferente de análise justamente por estarem inseridos em um contexto diferente, caso contrário recaímos em um desserviço ao fazer reviews que buscam criticar a pessoa pública do artista.
Aliás, tenho uma grande dificuldade em entender a necessidade de achar que artistas pop tem que utilizar sua música como âmbito de militância. Debater temas da atualidade são sempre bem vindos, mas não necessariamente é um pré-requisito pra qualidade.
Não adianta crescer debate racial em Lemonade e, em seguida, fazer parceira com um dos rappers mais machistas e lgbtfobicos da música. Se a música for julgada a partir da inclusão ou não de temas sensíveis à política, que esta seja então minimamente coerente com os discursos propostos.
O “retrato da juventude triste” que o Melodrama apresenta, por sua vez, é um retrato unilateral no tema proposto, não atinge nenhum avanço de fato (tanto musicalmente, quanto liricamente), com suas músicas se tratando de um único tema. Também tenho grande dificuldade de ver como este pode ter um “grande significado”.
No mais, é uma boa review. Se comparados aos sites brasileiros que possuem a mesma proposição, a organização e qualidade da escrita do Miojo Indie certamente merecem destaque.
O álbum merecia uma nota maior, para mim está entre os melhores álbuns pop’s do ano. Ainda prefiro o 1989, mas o Reputation é ótimo.