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Ano: 2017

Selo: Because

Gênero: Pop Alternativo, Synthpop

Para quem gosta de: Bat For Lashes e Christine and the Queens

Ouça: Rest e Deadly Valentine

8.5
8.5

Resenha: “Rest”, Charlotte Gainsbourg

Ano: 2017

Selo: Because

Gênero: Pop Alternativo, Synthpop

Para quem gosta de: Bat For Lashes e Christine and the Queens

Ouça: Rest e Deadly Valentine

/ Por: Cleber Facchi 21/11/2017

O passado ronda de forma quase sufocante o presente de Charlotte Gainsbourg. Filha de um dos personagens mais importantes da música francesa no último século, Serge Gainsbourg (1928-1991), a cantora, compositora e atriz franco-britânica passou grande parte dos últimos anos trabalhando na construção da própria identidade musical. Pinceladas eletroacústicas e visitas à obra do falecido pai que fizeram de cada novo registro de inéditas, caso de 5:55 (2006), obra produzida em parceria com o conterrâneo inglês Nigel Godrich (Radiohead), e IRM (2009), encontro musical com o norte-americano Beck, os primeiros fragmentos de um precioso exercício de maturação criativa.

Entregue ao público depois de um longo período de hiato – a artista passou os últimos anos se dedicando ao cinema, trabalhando em filmes como Melancolia (2011) e Ninfomaníaca (2013) –, Rest (2017, Because), quinto álbum de inéditas de Gainsbourg, talvez seja o registro onde todas essas referências instrumentais, possibilidades e vivências se encontram e crescem substancialmente. Trata-se de uma obra marcada de forma expressiva pelo peso da morte – do pai e da meia-irmã, a fotógrafa Kate Barry (1967-2013) –, além de mergulhar em temas como alcoolismo, medos e outros conflitos intimistas da cantora.

Ora cantado em francês, ora em inglês, Rest é uma obra que joga com a dualidade dos instantes. Fragmentos de profundo recolhimento instrumental/poético, seguido de atos grandiosos, como se Gainsbourg testasse os próprios limites dentro de estúdio. Exemplo disso está na sequência formada pela faixa-título do discoSylvia Says. De um lado, uma canção que desconstrói de forma minimalista as ambientações dançantes da música disco, reflexo da forte interferência de Guy-Manuel de Homem-Christo, uma das metades do Daft Punk. No outro oposto, um som colorido, quase radiante, porém, doloroso na forma como a cantora resgata trechos da melancólica obra de Sylvia Plath.

Sem necessariamente dialogar com um gênero específico, Gainsbourg entrega ao público um trabalho de essência atemporal, versátil. Minutos em que a cantora vai de encontro ao pop-rock francês dos anos 1970 (Les Crocodiles), prova de arranjos orquestrais que datam do início do século (Dans Vos Airs) e se enetrega ao pop-eletrônico dos anos 2000 (Ring-a-Ring O’ Roses) de forma sempre curiosa, particular. Em Deadly Valentine, quarta faixa do disco, um resumo involuntário de todo esse vasto conjunto de experiências, como se a cantora colidisse diferentes fórmulas instrumentais em um curto espaço de tempo. Um ato precioso, musicalmente complexo, porém, completo pelo minucioso vídeo da canção, uma parceria entre Gainsbourg e o britânico Blood Orange.

Parte dessa explícita transformação da cantora vem do time seleto de colaboradores que surgem em momentos estratégicos ao longo do trabalho. Ainda que o francês SebastiAn assuma a responsabilidade pela produção e parte expressiva dos arranjos, faixa após faixa, Gainsbourg dialoga com um time seleto de parceiros. De Paul McCartney nos arranjos e versos de Songbird in a Cage, passando por Connan Mockasin nas melodias de Dan vos airs e Les Crocodiles, Danger Mouse na produção de diferentes faixas, e Owen Pallett nos arranjos de cordas espalhados por toda a obra, nunca antes a cantora pareceu tão confortável dentro de uma obra quanto em Rest.

Trabalho mais completo de Gainsbourg até aqui, Rest encanta justamente por absorver e transformar grande parte da herança musical da cantora. Durante toda a execução da obra, Charlotte traz de volta parte expressiva da sonoridade detalhada pelo pai, Serge, e a mãe, a cantora e atriz Jane Birkin. Composições que passeiam por entre eras, provando de diferentes essências e possibilidades, como se a cada nova composição, a artista transportasse o ouvinte para um novo cenário, fazendo do presente álbum uma obra que dança pelo tempo, sempre curiosa, mágica e naturalmente inquieta.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.