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Críticas

Noname

: "Room 25"

Ano: 2018

Selo: Independente

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Solange e SZA

Ouça: Blaxploitation, Prayer Song e Ace

8.3
8.3

Resenha: “Room 25”, Noname

Ano: 2018

Selo: Independente

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Solange e SZA

Ouça: Blaxploitation, Prayer Song e Ace

/ Por: Cleber Facchi 24/09/2018

Sem pressa, Fatimah Nyeema Warner passou os últimos cinco anos se revezando no criativo encontro com diferentes representantes do hip-hop norte-americana. De diálogos esporádicos com Chance the Rapper e demais representantes da cena de Chicago, como Jamila Woods, Saba e o coletivo Donnie Trumpet & The Social Experiement, passando pela bem-recebida mixtape Telefone (2016), obra que apresentou o trabalho da jovem à uma parcela maior do público, sobram incursões da artista pelos mais variados núcleos do R&B/rap estadunidense.

Satisfatório perceber em Room 25 (2018, Independente), primeiro álbum de estúdio de rapper sob o título de Noname, um criativo ponto de conexão entre essas diferentes colaborações e construções poéticas/instrumentais que vem sendo exploradas pela artista. Pouco mais de 30 minutos em que versos rápidos se espalham em meio a debates políticos, questões raciais e o caos cotidiano, reflexo natural da mudança de Warner para a cidade de Los Angeles.

Talvez este seja o álbum que você ouve no seu carro / Quando chega em casa tarde da noite / Questionando realmente cada deus, religião, Kanye ou vadias / Talvez esta seja a entrada antes de chegar ao rio“, rima logo na abertura do trabalho, em Self, um resumo inteligente de tudo aquilo que Noname reserva ao ouvinte no restante da obra. Fragmentos poéticos que sussurram as angústias, inquietações e, principalmente, os conflitos cotidianos que bagunçam a mente da rapper desde que conquistou a atenção do público e crítica com Telefone.

São versos que discutem o racismo e a repressão sofrida pelos negros nos Estados Unidos, como em Blaxploitation, música que utiliza trechos de clássicos do cinema negro como The Spook Who Sat by the Door (1973) e Dolemite (1975). Em Prayer Song, terceira faixa do disco, uma crítica preciosa ao universo de pequenos excessos da cultura estadunidense. Versos pontuais que discutem consumismo, religião, obesidade, sexo e o permanente aumento do conservadorismo.

O mais interessante talvez seja notar a forma como Noname brinca com o uso de pequenos contrastes ao longo da obra, espalhando versos sóbrios em uma base marcada pelo tom nostálgico das melodias. Difícil passar por músicas como Window, parceria com Phoelix, ou mesmo Montego Bae, colaboração com Ravyn Lenae, e não lembrar de nomes como Erykah Badu e outros nomes de destaque do Neo-Soul. Variações instrumentais que buscam inspiração na música negra dos anos 1970, porém, preservando o frescor de obras atuais, como A Seat at The Table (2016), de Solange.

Mesmo centrado nas desilusões e tormentos intimistas de Warner, Room 25 encanta pela forma como cada colaborador do disco parece ampliar esse conceito restrito da obra. Entre arranjos orgânicos e interferências pontuais, nomes como Saba, Adam Ness, Yaw e outros personagens de destaque do novo R&B estadunidense correm por entre as brechas do álbum, fazendo da estreia de Noname uma obra imensa mesmo no minimalismo que serve de estrutura ao trabalho.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.