Com as regras apresentadas no autointitulado EP de 2016, bastava apenas aos integrantes do Hoops entregar ao público o primeiro álbum de estúdio. Desenvolvido em um intervalo de apenas um ano, Routines (2017, Fat Possum) mostra o esforço do trio formado por Drew Auscherman, Keagan Beresford e Kevin Krauter em se aprofundar na construção de melodias empoeiradas e arranjos nostálgicos, sempre íntimos de obras produzidas por diferentes representantes da cena alternativa dos Estados Unidos.

São 11 faixas e pouco mais de 30 minutos em que a banda original da cidade de Bloomington, Indiana, segue à risca grande parte dos ensinamentos deixados por “veteranos” como Ariel Pink, Deerhunter e Real Estate ao final da última década. Versos sufocados pela dor da separação, relacionamentos conturbados e declarações de amor. Composições essencialmente confessionais, íntimas do ouvinte, proposta que abastece o trabalho da abertura até o último acorde de Worry.

Longe de parecer inovador, Routines encanta pela forma como Auscherman e os parceiros de banda encontram em uma série de referências consolidadas a base para grande parte do trabalho. Dos sintetizadores e batidas rápidas que crescem em Sun’s Out, passando pelas guitarras à la Mac DeMarco em Rules ou mesmo a psicodelia enevoada de On Letting Go, cada composição do disco busca conforto em uma sonoridade específica, fazendo do álbum um criativo ziguezaguear de experiências.

Em Underwater Theme, décima faixa do disco, um evidente ponto de transformação dentro da obra. Ainda que a semelhança com o trabalho de artistas como Lemonade seja percebida durante toda a construção da faixa, o uso inteligente de temas eletrônicos e melodias que escapam do habitual indie-rock-ensolarado garante ao ouvinte um momento de renovação. Interessante perceber como a mudança de sonoridade proporciona maior detalhamento aos versos que recheiam a canção.

Segunda composição do álbum, Benjals investe com naturalidade no mesmo conceito, porém, reforçando a presença das guitarras. O resultado está na construção de um curto ato instrumental, por vezes íntimo da boa fase do Ariel Pink’s Haunted Graffiti no jovem clássico Before Today (2010). Um som embalado pela captação lo-fi dos arranjos, proposta que volta a se repetir com maior naturalidade em faixas como as caseiras Burden e On Letting Go, esta última, uma das melhores canções do disco.

De essência curiosa, Routines nasce como um típico registro de um grupo iniciante. Perceba como cada composição assume um conceito instrumental específico, transportando público e banda para diferentes sonoridades, épocas e referências. Trata-se de um obra esquiva de qualquer traço de certeza e previsibilidade, como se provar e adaptar diferentes possibilidades dentro de estúdio fosse o principal componente para a construção dos arranjos e versos do álbum.