Resenha: “RR7349”, S U R V I V E

/ Por: Cleber Facchi 03/10/2016

Artista: S U R V I V E
Gênero: Eletrônica, Synthpop, Alternativa
Acesse: http://survive.bandcamp.com/

 

Kyle Dixon e Michael Stein passaram grande parte da presente década experimentando. Sob o título de S U R V I V E, a dupla norte-americana esteve envolvida em uma série de obras independentes, como os ótimos Mnq025 e LLR002, ambos de 2012, a trilha sonora do filme The Guest, em 2014, além, claro, de uma sequência de composições avulsas e músicas feitas sob encomenda para a TV. Nada que se compare ao sucesso alcançado pelos produtores na trilha sonora de Stranger Things, da Netflix.

Em RR7349 (2016, Relapse), primeiro registro da dupla como S U R V I V E desde o sucesso em torno da série, uma clara extensão do material produzido desde o começo da presente década. Em um intervalo de pouco mais de 40 minutos e apenas nove faixas, Dixon, Stein e os novos parceiros, Adam Jones e Mark Donica, fazem do presente registro uma delicada colcha de retalhos, ruídos sintéticos e ambientações climáticas sempre perturbadoras, obscuras.

São músicas como a densa Other, segunda faixa do disco e uma espécie de sobra de algum clássico do terror lançado na década de 1980. Difícil não lembrar dos trabalhos produzidos pelo veterano John Carpenter quando os sintetizadores emulam batidas e temas sempre provocativos. Mais do que uma coleção de ideias e fragmentos eletrônicos, uma obra que cerca e sufoca o ouvinte a cada novo movimento, como se o ouvinte fosse arrastado para dentro de um universo próprio da banda.

Composição escolhida para apresentar o disco, a inaugural A.H.B. mostra como os detalhes dançam no interior de cada música produzida pela banda. Entre batidas e sintetizadores cósmicos, o quarteto estabelece pequenos respiros criativos, costurando temas atmosféricos e transições propositadamente instáveis. Uma constante sensação de que diferentes faixas do material produzido para a trilha sonora de Stranger Things foram amarradas dentro de uma mesma canção.

A mesma versatilidade dos arranjos e melodias acaba se repetindo no interior de Wardenclyffe. Quinta faixa do disco, a canção alimentada pelo uso de batidas firmes e sintetizadores instáveis parece dançar na cabeça do ouvinte. São pouco mais de quatro minutos em que o grupo testa os próprios limites, escapando da produção de um material essencialmente brando, climático, de forma a produzir um som marcado pelo uso de texturas eletrônicas e quebras constantes.

Entre instantes de maior calmaria – Sorcerer, Low Fog – e composições movidas pela completa instabilidade dos arranjos – Copter, Cutthoart –, RR7349 segue instigante até o último minuto. Um jogo cuidadoso de melodias eletrônicas, respiros silenciosos e temas complexos que se distanciam completamente o uso da voz, como uma delicada continuação de tudo aquilo que o S U R V I V E vem produzindo na última meia década.  

 

RR7349 (2016, Relapse)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Disasterpeace, Chromatics e Cliff Martinez
Ouça: A.H.B., Other e Wardenclyffe

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.