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Críticas

Brockhampton

: "Saturation / Saturation II"

Ano: 2017

Selo: Empire

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Frank Ocean e Tyler, The Creator

Ouça: Swamp, Queer e Junky

6.5 / 8.0
6.5 / 8.0

Resenha: “Saturation” / “Saturation II”, Brockhampton

Ano: 2017

Selo: Empire

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Frank Ocean e Tyler, The Creator

Ouça: Swamp, Queer e Junky

/ Por: Cleber Facchi 08/09/2017

Sem necessariamente parecer datado ou pouco inventivo, o Brockhampton parece seguir a trilha de outros coletivos recentes do Hip-Hop norte-americano. Mentes centradas na produção de versos que refletem conflitos urbanos, abusos com drogas, a descoberta da sexualidade, racismo, criminalidade e a forte aproximação gerada pelas redes sociais. Ideias que atravessam o cotidiano tedioso de qualquer jovem adulto e que acabam se refletindo nos dois primeiros capítulos da trilogia arquitetada pelo grupo: Saturation e Saturation II.

Sob o comando do rapper Kevin Abstract, artista que no último ano lançou o bom American Boyfriend: A Suburban Love Story (2016), cada registro assinado pelo coletivo original de San Marcos, Texas, serve de passagem para um universo musical tão atual quanto nostálgico, naturalmente íntimo de clássicos produzidos no final dos anos 1990. Batidas tortas que se espalham em meio a elementos típicos do R&B/Soul, dialogam com a música pop e ainda buscam referências na obra de veteranos como Outkast, N*E*R*D e Kanye West.

Se musicalmente o trabalho produzido pelo coletivo aponta para o passado, em se tratando dos versos que costuram a obra do Brockhampton, explícita é a relação com o presente. Prova disso está no discurso progressista e temas sociais debatidos em grande parte do material apresentado em Saturation II. São faixas como Queer, Teeth e, principalmente, Jucky em que o coletivo texano se concentra em debates sobre racismo e homofobia, temas explorados com naturalidade desde a mixtape All-American Trash, lançada em 2016.

Difícil não lembrar de Frank Ocean, Chance The Rapper e The Internet, efeito direto da poesia honesta que parece conversar diretamente com o ouvinte. Um discurso atento, maduro e cada vez mais afinado, vide a evolução do grupo quando comparamos o material produzido em janeiro deste ano, durante o lançamento de Saturation, e todo o repertório que ganha destaque nas canções de Saturation II. Versos e batidas que mostram a permanente evolução do coletivo, abrindo passagem para o terceiro e ainda inédito álbum do Brockhampton.

Entretanto, por se tratar de uma obra entregue aos cuidados de diferentes artistas e produtores – são pelo menos 15 membros ativos e outros tantos artistas responsáveis pela base do material –, difícil ignorar os tropeços do coletivo, principalmente no primeiro álbum. Falta ritmo e proximidade entre as faixas, como se diferentes ideias fossem jogadas aleatoriamente no interior do trabalho, problema claramente solucionado na homogeneidade, vinhetas e forte relação instrumental que marca o segundo disco.

Repleto de boas composições, tanto Saturation quanto Saturation II cumpre com sua principal função, detalhando a identidade musical do coletivo texano. Ainda que tropeços sejam evidentes nas duas obras, não há como negar o peso e força criativa em uma variedade de faixas como Gold, Swamp, Jesus e todo o universo de pequenas experimentações poéticas que costuram o trabalho, reforçando o nascimento de um projeto que há muito deixou de pertencer a Kevin Abstract, caminhando em um mundo de regras próprias.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.